No meio das montanhas verdejantes de Rodes, longe das praias turísticas e das ruelas cosmopolitas da Cidade Velha, encontra-se uma aldeia que parece ter saído das páginas de um conto de fadas.
Campochiaro, ou como é chamada hoje, Agia Eleousa, é um dos lugares mais peculiares e inexplorados da ilha. Esta aldeia abandonada de arquitetura colonial italiana alberga hoje um dos habitantes mais raros da Europa: o gizani, um peixe que não existe em mais nenhum lugar do mundo.
Mas vamos ver a relação da Itália com a ilha grega de Rodes
Rodes é uma ilha grega histórica, conhecida desde a antiguidade, que mudou de mãos inúmeras vezes.
Durante a Guerra Ítalo-Turca, travada em 1912, a Itália ocupou Rodes e o resto do Dodecaneso ao Império Otomano. Inicialmente, muitos habitantes gregos das ilhas viam os italianos como libertadores.
A Itália manteve o controle das ilhas por mais de três décadas. Durante este período, a administração italiana avançou com várias obras de infraestrutura e desenvolvimento urbano em Rodes, particularmente na capital de Rodes. Os edifícios públicos construídos são característicos, muitos dos quais ainda hoje se conservam e influenciam a arquitetura da ilha.
A presença italiana deixou uma marca cultural significativa nessa Ilha Grega. Isso é evidente na arquitetura, na língua (com algumas palavras italianas incorporadas ao vocabulário local) e em certos aspectos da cultura local.
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Dos Alpes… a Rodes
Em 1935, o governador italiano do Dodecaneso, Mario Lago, elaborou um plano ambicioso: construir aldeias rurais que seriam habitadas por lenhadores italianos e suas famílias, com o objetivo de explorar e, ao mesmo tempo, proteger as florestas de Rodes. Assim, nasceu Campochiaro, uma réplica fiel das aldeias dos Alpes italianos, com edifícios de pedra, varandas curvas e praças que lembram o norte da Itália.
Os primeiros habitantes vieram para Rodes do Vale de Fiemme, deixando para trás uma pátria ferida pela crise económica. Em Rodes encontraram sol, verde e esperança. Mas a guerra não tardou. E em 1947, com a união do Dodecaneso à Grécia, os italianos partiram, deixando para trás uma aldeia fantasma.
A praça de Agia Eleousa está hoje silenciosa, mas esconde memórias. O mercado com os seus arcos, a antiga escola que se tornou sanatório, as prisões, a igreja católica que se tornou ortodoxa, tudo ainda está de pé como se o tempo não tivesse passado. Claro, não em muito bom estado, mas não deixam de evocar o passado. Campochiaro é um museu ao ar livre de história, arquitetura e nostalgia.
O segredo da vila fantasma italiana em Rodes
O peixe gizani (Ladigesocypris ghigii).
E, no entanto, esta vila “morta” alberga algo extremamente vivo. Alguns metros depois da praça, encontra-se um reservatório de água circular, que se enche com as águas da nascente de Koskinisti. Dentro dele, vive o gizani (Ladigesocypris ghigii), um pequeno peixe, único no mundo, que sobrevive apenas nas águas doces de Rodes.
Este “fóssil vivo”, como muitos o descrevem, recebeu o nome do professor italiano Alessandro Ghigi, que o descobriu no início do século XX. Apesar do seu pequeno tamanho, o gizani é um verdadeiro campeão de sobrevivência. Vive em condições difíceis, ou seja, em riachos que no inverno inundam e no verão quase secam. Vive rapidamente, alimenta-se de tudo e reproduz-se em grande número.
Mas o perigo é real: as suas populações estão em constante declínio e um dos seus refúgios conhecidos já desapareceu. Hoje, o reservatório de Campochiaro é um dos seus últimos redutos.
Por esta razão, o governo grego, em colaboração com a União Europeia, deve preservar o último lar deste peixe raro.