Moro no Brasil há alguns anos e, como grego, não é raro ouvir a pergunta: “O que você mais sente falta da Grécia?”. Eu poderia dizer o mar Egeu, as conversas nas praças, os verões intermináveis. Mas muitas vezes, o que mais me transporta para casa está no prato. E é por isso que ver duas saladas gregas no topo do ranking mundial deste ano me fez sorrir. São receitas simples, acessíveis, mas que carregam séculos de tradição.
As saladas Dakos e Horiatiki ficaram em primeiro e segundo lugares, respectivamente, em uma avaliação internacional de comidas típicas feita pela TasteAtlas. Ambas são muito diferentes entre si, mas têm algo em comum: ingredientes frescos, respeito às origens e muito azeite de oliva.
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Dakos: a salada grega que é o sabor da ilha de Creta
Dakos.
A primeira colocada do ranking vem de Creta, uma das maiores ilhas gregas. É um prato que representa bem a culinária local: direta, rústica e cheia de sabor. A base da salada é o paximadi, um pão seco de cevada, parecido com um biscoito muito duro, que é amolecido com o suco do tomate fresco que vai por cima. A textura lembra uma bruschetta, mas o sabor é bem mais grego.
Por cima do pão, espalha-se tomate bem maduro e picado, um fio generoso de azeite extravirgem e queijo xinomyzithra, típico da região. Fora de Creta, é comum substituir por feta esfarelado, mais fácil de encontrar, inclusive no Brasil. A salada ainda leva azeitonas pretas, orégano e, às vezes, alcaparras. Quem conhece os sabores do Mediterrâneo vai reconhecer todos os elementos logo na primeira garfada.
Para preparar em casa, você pode adaptar o paximadi com torradas integrais ou pão italiano duro. O importante é que ele suporte a umidade sem desmanchar totalmente. O tomate deve ser fresco e suculento, quanto mais maduro, melhor.
Ingredientes para fazer a salada grega Dakos (para 2 porções):
- 2 torradas grandes de pão integral ou pão de cevada seco
- 2 tomates maduros picados
- 100g de queijo feta esfarelado
- Azeite extravirgem
- Azeitonas pretas (tipo Kalamata)
- Orégano seco
- Sal a gosto
Modo de preparo da salada grega Dakos:
Coloque as torradas no prato e cubra com o tomate picado. Regue com bastante azeite, adicione o feta por cima, as azeitonas e uma pitada de orégano. Sirva imediatamente.
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Horiatiki: a tradicional salada grega
A típica salada grega.
O segundo lugar ficou com uma salada que praticamente define a identidade culinária do país: a Horiatiki, que significa “salada camponesa”. É conhecida no mundo todo como “salada grega” e aparece em praticamente todos os cardápios de restaurantes na Grécia, da capital até os vilarejos mais isolados.
Ela nasceu no campo, feita por agricultores que juntavam o que tinham à mão: tomate, pepino, cebola, azeitonas, pimentão e, claro, o queijo feta. Tudo temperado com azeite e orégano. Não há alface ou folhas, o foco são os vegetais cortados em pedaços grandes e servidos crus.
Um detalhe importante é a forma de servir o feta: tradicionalmente, ele vai em bloco, colocado sobre os vegetais como uma “tampa” e só é misturado na hora de comer. Alguns ainda adicionam um toque de vinagre ou suco de limão, mas o azeite de oliva costuma ser suficiente.
Ingredientes para fazer a tradicional Horiatiki, ou salada grega (para 2 porções):
- 2 tomates grandes cortados em quartos
- 1 pepino cortado em rodelas ou meias-luas
- ½ cebola roxa em fatias finas
- ½ pimentão verde em tiras
- 100g de feta em bloco
- Azeitonas pretas (de preferência Kalamata)
- Azeite extravirgem
- Orégano seco
- Sal a gosto
Modo de preparo da salada grega tradicional:
Em um prato fundo, disponha os vegetais. Acrescente as azeitonas e coloque o bloco de feta por cima. Regue com azeite, salpique orégano e sirva.
Como combinar as saladas gregas
Ambas as saladas funcionam bem sozinhas, como prato leve em dias quentes, mas também são ótimas entradas ou acompanhamentos. Na Grécia, é comum servir com pão rústico, vinho branco seco ou até retsina, o vinho aromatizado com resina de pinho.
A Dakos vai bem com pratos de peixe, lula grelhada e até carnes assadas com ervas. Já a Horiatiki é mais versátil e pode acompanhar praticamente qualquer refeição mediterrânea, de moussaka a souvlaki.
Simplicidade com história
Essas saladas não conquistaram o mundo por serem exóticas ou difíceis de preparar. Pelo contrário, elas mostram que a boa comida pode ser simples, desde que feita com ingredientes frescos e respeito à tradição. Cada prato carrega um pouco da história da Grécia: o pão duro dos tempos difíceis, o azeite de gerações de agricultores, o queijo feito artesanalmente nas montanhas.
Morando no Brasil, costumo preparar essas saladas com os ingredientes que encontro por aqui. E mesmo com adaptações, elas continuam me conectando com a minha terra, minha infância e minha cultura. Se você ainda não conhece a Dakos ou a Horiatiki, vale a pena experimentar. Não são só receitas, são memórias servidas no prato.