A Portara de Naxos, uma das estruturas mais fotografadas da Grécia, está prestes a passar por mudanças que podem alterar a forma como o público interage com ela. A decisão de cercar o monumento, tomada após um incidente recente, reacendeu o debate sobre a preservação do patrimônio histórico diante do turismo de massa. Ao mesmo tempo, trouxe à tona curiosidades e aspectos pouco conhecidos sobre essa construção inacabada que sobrevive há mais de 2.500 anos.
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O episódio que mudou tudo
O gatilho para a nova medida foi um episódio registrado em foto e amplamente divulgado nas redes sociais. Um turista foi flagrado levantando um fragmento de mármore antigo próximo à Portara, aparentemente para fazer uma pose. A imagem, que viralizou rapidamente, foi considerada desrespeitosa tanto por autoridades quanto por moradores da ilha. Apesar de uma inspeção confirmar que não houve danos permanentes, o episódio expôs a vulnerabilidade do local.
Como resposta imediata, a Autoridade de Antiguidades das Cíclades (Ephorate of Antiquities of Cyclades) designou um guarda fixo para o monumento. No entanto, a principal medida será a instalação de uma cerca ao redor da Portara. Isso marca uma mudança significativa na política de acesso ao sítio, que até então era livre e aberto ao público sem restrições.
Um monumento inacabado com valor histórico
A Portara, cujo nome significa “grande porta”, é na verdade a entrada de um templo que nunca foi concluído. A construção começou por volta de 530 a.C., sob o governo do tirano Lygdamis, que tinha o objetivo de erguer um templo em homenagem ao deus Apolo. A intenção era construir algo ainda maior que o Templo de Zeus em Atenas. No entanto, o projeto foi interrompido por motivos políticos e nunca retomado.
Mesmo incompleta, a Portara é imponente. Mede cerca de 6 metros de altura por 3,5 metros de largura, sendo composta por blocos maciços de mármore extraídos da própria ilha de Naxos. Esse tipo de mármore, conhecido por sua coloração branca cristalina e alta durabilidade, era amplamente valorizado no mundo antigo, tanto para escultura quanto para construção civil.
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Localização estratégica e simbolismo
A estrutura fica posicionada em uma ilhota ligada à cidade principal de Naxos por uma estreita faixa de terra. De lá, é possível ver o pôr do sol com vista para o mar Egeu, o que transformou o local em parada obrigatória para turistas e fotógrafos.
Por muito tempo, a Portara foi interpretada apenas como parte de um templo abandonado. Porém, para os habitantes da ilha, ela ganhou outros significados com o passar dos séculos. Tornou-se símbolo de resistência, de beleza intocada e da ligação entre passado e presente. Alguns estudiosos ainda debatem se a estrutura seria parte de um templo dedicado a Apolo ou, segundo outras teorias, a Dionísio, deus do vinho e da celebração.
O dilema entre proteção e acesso livre
A decisão de cercar o monumento foi recebida com reações divididas. De um lado, arqueólogos e conservacionistas argumentam que o acesso irrestrito oferece riscos concretos à conservação da estrutura. Do outro, moradores e visitantes frequentes lamentam a perda da experiência de caminhar livremente ao redor da Portara, especialmente em um país conhecido por integrar seus monumentos históricos ao cotidiano das pessoas.
Além da cerca, estão em discussão outras medidas de controle, como a cobrança de entrada e a transformação oficial do local em um sítio arqueológico fechado. Isso exigiria monitoramento contínuo e poderia afastar parte do público que busca na Portara um contato mais direto e espontâneo com a história.
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Curiosidades pouco conhecidas sobre a Portara de Naxos
- A Portara foi construída com técnicas avançadas para a época. Os blocos de mármore são tão pesados que, mesmo com ferramentas rudimentares, foram encaixados com precisão. Estima-se que cada peça pese dezenas de toneladas.
- Durante o período bizantino e posterior, partes do templo foram reaproveitadas para construções na cidade, prática comum na antiguidade.
- A estrutura resistiu ao abandono, assim como a terremotos e às mudanças climáticas ao longo dos séculos. A localização à beira-mar e a qualidade do mármore ajudaram na sua conservação.
- O portal tem orientação voltada para a ilha de Delos, considerada sagrada na Grécia antiga, onde Apolo teria nascido. Essa escolha pode não ter sido coincidência, reforçando a ideia de um culto ao deus solar.
Para brasileiros que sonham em conhecer a Grécia e se impressionar com sua herança histórica, a Portara é um exemplo de como o passado e o presente se encontram no cotidiano das ilhas gregas. A história dessa estrutura traz à tona uma realidade que muitas vezes escapa ao olhar turístico: os desafios de proteger patrimônios que são, ao mesmo tempo, relíquias e espaços vivos de convivência.
A experiência de visitar a Portara pode mudar nos próximos meses, mas sua importância permanece.
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