Na Grécia antiga, uma das divindades mais lembradas era Hermes. Filho de Zeus e da ninfa Maia, ele foi cultuado como mensageiro dos deuses e protetor de viajantes, mercadores, pastores, atletas e até ladrões. A ele eram atribuídos dons de rapidez, inteligência e a habilidade de transitar entre mundos.
Suas representações mais conhecidas trazem elementos icônicos: sandálias aladas, o cajado entrelaçado por duas serpentes, o caduceu, e um chapéu também alado. Esses símbolos comunicavam movimento, comunicação e mediação. Além disso, Hermes era considerado um “trickster”, ou seja, um personagem astuto, criativo e persuasivo, capaz de pregar peças e, ao mesmo tempo, negociar saídas inesperadas.
Outro papel de destaque estava em sua função como psicopompo, aquele que guiava as almas dos mortos até o submundo. Essa capacidade de circular entre o mundo dos vivos e o dos deuses mostrava seu poder como mediador, guardião das encruzilhadas e dos caminhos.
Hermes e os millennials
Séculos separam o mundo da Grécia clássica da geração millennial, mas as semelhanças entre Hermes e as características dessa geração chamam atenção. Os jovens adultos de hoje cresceram em meio à tecnologia, à internet rápida e à comunicação instantânea. Nesse contexto, o deus mensageiro parece ter encontrado uma nova forma de existir.
As sandálias aladas, que simbolizavam velocidade, poderiam ser comparadas à rapidez das notificações que chegam a cada segundo no celular. Hermes, que corria entre deuses e mortais com recados importantes, se encaixaria bem no papel de patrono dos aplicativos de mensagens.
Além disso, a irreverência e a flexibilidade do deus se aproximam do comportamento digital contemporâneo. Hermes era conhecido por suas travessuras, sua capacidade de mudar o rumo das situações com inteligência e sua habilidade em negociar. Da mesma forma, os millennials costumam lidar com um mundo em constante transformação, onde adaptabilidade é uma qualidade essencial.
Um deus grego polêmico
O deus grego Hermes era bastante polêmico.
Se há um traço que define Hermes, é a comunicação. Ele personifica a necessidade de transmitir mensagens com rapidez e clareza. Hoje, essa característica poderia ser vista nas redes sociais, onde imagens, vídeos e mensagens atravessam fronteiras em segundos.
Hermes também era lembrado por seu humor e esperteza. Na linguagem moderna, seu jeito brincalhão poderia se refletir em memes, emojis e mensagens que mudam de sentido com um simples símbolo. Esse traço reforça a ideia de que, se vivesse hoje, Hermes se sentiria confortável no ambiente digital, onde ironia e criatividade circulam livremente.
Hermes foi também o deus do comércio, protetor de transações e da troca de bens. Em um mundo em que millennials são consumidores digitais por excelência, a ligação é evidente. Comprar e vender online, criar startups e investir em negócios globais são práticas que se encaixam na esfera de influência desse deus.
Ele, no entanto, também era patrono dos ladrões. Na vida moderna, isso pode ser interpretado como um alerta sobre golpes e fraudes online. Assim como no passado, quando Hermes representava tanto a troca justa quanto o risco do roubo, o ambiente digital também mistura oportunidade e perigo.
Outro aspecto é a relação com as viagens. Hermes era protetor dos viajantes e dos caminhos. Os millennials cresceram em uma era de passagens aéreas mais acessíveis e de intercâmbios culturais. Muitos cultivam o hábito de viajar, conhecer novos lugares e se abrir ao contato com diferentes culturas, algo que remete diretamente à proteção do deus dos caminhos.
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Um deus adaptável
Hermes tinha a capacidade de se adaptar. Com sua astúcia, conseguia manter boas relações com os outros deuses, mesmo quando suas travessuras criavam problemas. Essa adaptabilidade o aproxima ainda mais da geração millennial, que enfrenta mudanças rápidas no mercado de trabalho, nos relacionamentos e na forma de viver.
Enquanto outras divindades da mitologia mantêm perfis mais rígidos, como Ares, sempre ligado à guerra, ou Héstia, associada ao lar, Hermes se destaca por sua versatilidade. Ele era, ao mesmo tempo, mensageiro, comerciante, protetor de viajantes e condutor de almas. É justamente essa multiplicidade que ecoa na vida dos jovens de hoje, que muitas vezes acumulam diferentes funções e buscam se reinventar em várias áreas.
Entre a Grécia e o Brasil
A figura de Hermes continua presente, ainda que de maneira indireta. Seu cajado, o caduceu, aparece em logotipos de empresas, em marcas ligadas ao comércio e até em representações visuais da área da saúde, apesar da confusão com o bastão de Asclépio.
No Brasil, como na Grécia, símbolos da Antiguidade continuam sendo incorporados em diferentes contextos, da publicidade à arquitetura. Em meio a essa presença silenciosa, Hermes se torna um elo entre passado e presente, entre a herança cultural grega e a vida cotidiana contemporânea.
Essa ponte se fortalece quando lembramos que tanto brasileiros quanto gregos convivem com tradições antigas e, ao mesmo tempo, com a tecnologia mais moderna. Hermes, nesse sentido, serve como um fio condutor que conecta mundos distintos, assim como fazia na mitologia.
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Hermes hoje
Ainda que nunca tenha sido chamado oficialmente de “deus dos millennials”, Hermes representa qualidades que dialogam com a vida atual: velocidade, comunicação, flexibilidade, humor e mobilidade. Esses traços fazem dele uma figura atemporal, capaz de atravessar séculos e permanecer relevante.
Se na Grécia antiga ele era celebrado em santuários e representado em esculturas, hoje poderia ser imaginado diante de uma tela de computador, digitando mensagens em tempo recorde ou guiando viajantes pelos aeroportos do mundo.
Assim, ele simboliza a passagem, o movimento e a transformação. E, em uma geração marcada pela rapidez e pela constante reinvenção, sua figura ganha novo sentido. Ele continua sendo o mensageiro, mas agora carrega mais do que recados dos deuses, carrega mensagens instantâneas de um mundo hiper conectado.
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