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Sabe qual é o masculino de ‘fada’? Você nem imagina

| Em 01/09/2025 às 15:28
Descubra qual é o masculino de fada. Foto: brazilgreece.

Quem já assistiu a desenhos como Os Padrinhos Mágicos pode ter se perguntado: se a personagem feminina é chamada de fada, como devemos chamar o personagem masculino, como o Cosmo? A questão vai além da curiosidade infantil e toca em um ponto interessante da língua portuguesa: nem todos os substantivos possuem uma forma masculina ou feminina claramente definida.

“Fada” tem masculino?

Na língua portuguesa, a palavra “fada” é considerada um substantivo sem flexão de gênero. Isso significa que, gramaticalmente, o termo é usado tanto para figuras associadas ao feminino quanto ao masculino. Assim, se um conto fala de uma fada homem, ele continuará sendo chamado de “fada”.

Esse uso está ligado às origens culturais do termo. No folclore europeu, especialmente o irlandês, as fadas (Sidhe ou Sí, no idioma gaélico) não eram classificadas como homens ou mulheres, mas como seres místicos com características próprias. Eram invisíveis aos olhos humanos e podiam assumir formas humanoides apenas quando desejassem aparecer. Com o tempo, a literatura e o cinema popularizaram a imagem de fadas femininas, mas a palavra permaneceu a mesma para ambos os gêneros.

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A influência da mitologia

Qual é o masculino de fada?

O termo ‘fada’ serve para ambos os gêneros. Imagem: brazilgreece.

Na mitologia irlandesa, os Sidhe englobavam diferentes criaturas mágicas, como pookas, banshees, duendes, sereias e selkies. Todos pertenciam a esse universo sobrenatural sem necessariamente seguir a lógica de gênero humano. Por isso, faz sentido que “fada” seja usada de maneira neutra. Quando a cultura celta foi absorvida pelo mundo anglo-saxão e depois difundida em histórias, livros e filmes, o termo se manteve.

Esse é um exemplo claro de como a língua reflete a forma como diferentes sociedades interpretam o mundo. No caso das fadas, a palavra portuguesa não se preocupou em criar uma versão masculina, já que a origem do mito não traz essa divisão.

Outras palavras que não mudam de gênero

“Fada” não é o único substantivo que causa dúvida. Muitos termos são considerados comuns de dois gêneros, ou seja, a palavra em si não muda, e quem define o gênero é o artigo ou o contexto. Veja alguns exemplos:

  • Estudante: pode ser o estudante ou a estudante.
  • Gerente: tanto faz dizer o gerente ou a gerente.
  • Músico/música: aqui mora a dúvida. “Música” pode se referir tanto à arte em si quanto a uma profissional da área. Para evitar confusões, em alguns contextos prefere-se dizer a musicista.

Além desses, há substantivos que tradicionalmente aparecem em uma forma, mas que também podem se aplicar a ambos os sexos:

  • Pessoa: é sempre usada no feminino, mesmo que se refira a um homem (ele é uma pessoa incrível).
  • Vítima: idem, não importa se falamos de um homem ou de uma mulher.
  • Criança: da mesma forma, a palavra continua no feminino.

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Outros casos peculiares da língua portuguesa

A língua portuguesa guarda certas particularidades que confundem até mesmo falantes nativos. Existem palavras que, à primeira vista, parecem ter versões no masculino ou feminino, mas que, na prática, não se flexionam de acordo com o gênero da pessoa a quem se referem. Um exemplo clássico é a palavra “testemunha”. Mesmo quando se fala de um homem, ela continua no feminino. É correto dizer que “ele foi testemunha do acidente”, sem necessidade de adaptação da forma.

Outro caso curioso é “indivíduo”, que permanece sempre no masculino, mesmo que esteja descrevendo uma mulher. Assim, frases como “ela é um indivíduo tranquilo” estão gramaticalmente corretas. Já a palavra “algoz”, utilizada para designar quem pratica atos de violência ou tortura, também segue essa lógica: mesmo que a pessoa em questão seja do sexo feminino, a forma permanece no masculino.

Esses usos podem causar estranhamento, principalmente para quem está aprendendo o idioma ou tenta aplicar uma lógica mais previsível às palavras. No entanto, são estruturas consolidadas ao longo do tempo e respaldadas pela tradição gramatical do português.

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E os seres mitológicos?

No universo do imaginário popular, as dúvidas sobre flexão de gênero também aparecem. Figuras como “fada” não possuem uma versão oficialmente masculina, como já vimos. A mesma questão se aplica a outras criaturas mitológicas. “Sereia”, por exemplo, está quase sempre associada a mulheres, mas existe o tritão como contraponto masculino. Apesar disso, em textos literários ou artísticos, não é raro ver homens descritos como “sereias”, sem que isso cause necessariamente um erro gramatical.

Já no caso da “mula-sem-cabeça”, o feminino se mantém porque a origem da lenda fala de uma mulher amaldiçoada. Não existe, portanto, uma versão masculina dessa figura no folclore tradicional. O mesmo acontece com a “banshee”, entidade do folclore irlandês sempre retratada como feminina e ligada a presságios de morte.

Por outro lado, há termos como “duende”, que, embora apareçam majoritariamente no masculino, podem se referir a seres de qualquer gênero. A palavra é usada de forma neutra nesse contexto, sem que haja necessidade de criar uma forma específica para os duendes do sexo feminino.

Esses exemplos mostram como o idioma carrega camadas culturais e históricas que ultrapassam as regras gramaticais. Em muitos casos, a flexão de gênero, ou a ausência dela, reflete a maneira como os próprios mitos, crenças e tradições se estruturaram ao longo do tempo.

Por que tantas variações?

Essas diferenças se explicam pela natureza da língua. Alguns substantivos são classificados como sobrecomuns, ou seja, não variam nunca, independentemente do gênero do ser designado. É o caso de “criança”, “indivíduo” e “vítima”.

Outros são epicenos, usados para animais e que também não mudam de forma, como “jacaré” ou “cobra”. Para indicar o sexo, acrescenta-se “macho” ou “fêmea”.

Por fim, há os comuns de dois gêneros, como “estudante”, que dependem apenas do artigo que os acompanha.

Essas palavras mostram como a língua portuguesa é cheia de particularidades que refletem regras gramaticais e heranças culturais e históricas. Entender essas diferenças ajuda a usar as palavras com mais precisão e a perceber como a linguagem se adapta às formas de pensar de cada época.

  • Rita Póvoa

    Pedagoga de formação e entusiasta da língua portuguesa, é uma apaixonada por viagens e gastronomia, encontrando na escrita uma maneira de unir suas paixões. Com habilidades técnicas refinadas na educação e um olhar atento para a língua, ela compartilha de forma prática e acessível dicas valiosas para o dia a dia.

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