Ao ouvir a palavra “camelo”, a imagem mais comum que vem à mente é a de um animal resistente, atravessando dunas sob um sol escaldante. Mas quando pensamos em vários camelos juntos, surge uma dúvida curiosa: qual é o nome do coletivo desse grupo? A resposta é um termo pouco usado no dia a dia, mas carregado de significado histórico e cultural.
Qual é o coletivo de camelo?
Diferentemente de coletivos como “manada” ou “alcateia”, o coletivo de camelo, “cáfila”, não nasce de uma regra gramatical clara. “Cáfila” é uma dessas palavras que se formaram com o tempo, por influência de contextos históricos e culturais. Trata-se de um exemplo do vocabulário da língua portuguesa que reflete vivências de determinados povos, no caso, aqueles que cruzavam os desertos do Oriente Médio e do norte da África com longas caravanas de camelos.
A palavra tem origem no árabe qāfila, que significa justamente “caravana”. Era o nome dado ao grupo de viajantes, geralmente comerciantes, que percorriam regiões desérticas, carregando mercadorias em camelos. A imagem é conhecida: fileiras organizadas de camelos avançando lentamente sob o calor, conduzidas por guias experientes, enfrentando tempestades de areia e noites frias.
Como explica o professor Diogo D’Ippolito, autor de material didático de Língua Portuguesa, os coletivos não obedecem a uma regra fixa. São construções culturais que se consolidam no uso, muitas vezes com base em realidades geográficas, modos de vida e tradições.
No caso dos camelos, a experiência dos povos do deserto com suas caravanas foi tão marcante que acabou influenciando o vocabulário. Assim, a cáfila passou a representar toda a estrutura simbólica associada a esse tipo de deslocamento.
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A etimologia da palavra “cáfila”
A origem da palavra “camelo” também guarda uma viagem interessante. Ela começa no hebraico gāmāl, passa pelo grego antigo (kámēlos), depois pelo latim (camelus) até chegar ao português. Curiosamente, o radical semítico gamal carrega o sentido de “retribuir” ou “devolver”, uma associação poética ao papel que o camelo desempenha: um animal que oferece resistência e utilidade em regiões inóspitas, recompensando o esforço humano com sua força e adaptabilidade.
Essa conexão etimológica também se alinha ao papel histórico dos camelos no comércio entre diferentes civilizações, servindo de elo entre culturas, como as do mundo árabe, da Pérsia e do norte da África, com reflexos até mesmo em rotas que se aproximavam do território grego.
No Brasil, “cáfila” é uma palavra que quase não se ouve fora de contextos acadêmicos ou literários. Ela aparece de forma mais esporádica, seja em livros escolares, em dicionários ou, curiosamente, até na música. O cantor Zeca Baleiro, por exemplo, usou o termo na canção “A Cáfila do Califa”, lançada em 2018 no álbum Zureta Vol. 2. A música apresenta o coletivo de forma divertida às crianças, misturando imaginação e aprendizado em versos como:
“Você sabe o que é cáfila?
É um bando de camelos no deserto quente, quente…”
Por fim, aqui vão alguns exemplos de uso do coletivo de camelo
Para ilustrar melhor como a palavra pode ser usada em português, veja algumas frases:
- A cáfila de camelos atravessava o deserto rumo ao oásis.
- Os mercadores protegiam a cáfila durante as tempestades de areia.
- A antiga rota das especiarias dependia da resistência da cáfila.
- Ao entardecer, a cáfila descansou perto de uma fonte.
- Guiada por um beduíno, a cáfila avançava sob o sol do Saara.
Entender o que significa esse coletivo é também reconhecer como a língua portuguesa carrega fragmentos de mundos distantes, como o hebraico, o árabe, o grego e o latim, todos conectados por uma simples pergunta: como se chama um grupo de camelos?
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