“Na Itália te batizaram Medusa, pela luz crespa e alta da tua cabeleira. Eu te chamo de minha ‘chascona’ e emaranhada. Meu coração conhece as portas do teu cabelo“. O mesmo espírito que embala os versos de Pablo Neruda respira em La Chascona, casa que o poeta construiu em Santiago do Chile. Praticamente uma extensão de suas obras, o espaço reúne seus caprichos, paixões e o próprio estilo de vida.
A residência fica no bairro de Bellavista, mesmo aos pés do morro de San Cristóbal. Por isso, parece mais um jardim encantado pendurado na encosta. Como o poeta pediu, o prédio tem as vistas para a Cordilheira dos Andes e, acredite, demorou quase 13 anos para ser construído.
A origem do nome? Uma justa homenagem à Matilde Urrutia, sua amante, a quem chamava carinhosamente de “chascona” pelos cabelos ruivos e revoltos. De fato, La Chascona é uma das três casas de Neruda pelo Chile. Mas, talvez, seja a mais simbólica.
A história de La Chascona
A terceira casa de Neruda é a única na capital chilena e, como comentamos, demorou mais de uma década para a construção terminar. Uma demora que se justifica, sobretudo, pela própria localização.
Afinal, era necessário superar o desnível com mais de dez escadas. Além disso, dividir os espaços como em um labirinto e, finalmente, se adaptar ao canal que atravessava o terreno. Um curso de água que, hoje, é uma cascata que forma um riacho que, por sua vez, corre sob a casa.
O objetivo da construção, finalizada em 1953, era abrigar, não apenas o casal, mas também, encontros com os amigos do Partido Comunista. Somente dois anos depois, La Chascona tornou-se residência oficial de Neruda, após sua separação da esposa, Delia Del Carril.
Mas, nem só de poemas e amor se faz a história da casa. Em setembro de 1973, após a morte de Pablo Neruda, La Chascona foi atacada por vândalos. Matilde se esforçou para recuperar o que pode e viveu lá até sua morte, em 1985.
Leia mais: Dark tourism: a nova tendência que mudará a indústria do turismo
Como é a casa?
La Chascona, atualmente, é um museu dedicado a Pablo Neruda. Aliás, é Monumento Nacional aberto ao público e uma das atrações mais visitadas da cidade. Lá, estão coleções, obras de artistas chilenos e estrangeiros, além de objetos e ambientes onde o poeta viveiu.
Localizada no distrito mais boêmio da capital chilena, não só exibe o selo artístico de Neruda, mas também a vida do poeta, que teve um significado enorme. Embora ele tivesse outras duas casas, foi lá que viveu até sua morte, doze dias após o golpe de Augusto Pinochet.
Estruturada em três partes em torno de um pátio ensolarado e coberto de plantas, a casa mantém os cômodos originais. Vale ressaltar que todos evocam um ar marítimo: tetos baixos, pisos inclinados e janelas de olho de peixe para dar a impressão de estar dentro de um navio.
No lado externo, há jardins e tanques com peixes coloridos, vasos de flores e grandes gaiolas projetadas para papagaios cantores. Todos estes elementos guardam, sobretudo, o caráter lúdico de Neruda e o toque pop que sua amante adicionava.
Características presentes principalmente nas passarelas, cercando o jardim ou no vão das escadas. Ou, ainda, na singularidade da sala de jantar e do bar de madeira rústica com uma caixa de música antiga. Também, na sala com lareira e tapetes de couro de vaca E, finalmente, o quarto cuja janela se abre sobre a cascata.
Ah, e ainda há os escritórios dos ilustres moradores. O estúdio do poeta, por exemplo, ainda preserva sua mesa de trabalho praticamente intacta. Já o espaço de Matilde guarda seu piano e outros instrumentos.
Mas são os pertecentes pessoais de Pablo Neruda que transformam a casa em um verdadeiro museu. Livros por todos os lados, quadros de Diego Rivera ou Picasso, além de objetos curiosos contam muito de sua personalidade.
Só para ilustrar, há antigas bússolas, figuras de proa, conchas, esculturas africanas de madeira e uma coleção de taças de vidro coloridas.
Leia mais: 4 ilhas gregas tão bonitas que não dá para acreditar que existem
Como visitar La Chascona
A casa de Neruda fica aberta de terça-feira a domingo, das 10h às 19h. A entrada se dá por ordem de chegada e sem reserva prévia, até o encerramento.
Para ter informações, basta acessar o site da Fundação Pablo Neruda, que a administra.
As outras casas de Pablo Neruda
Além de La Chascona, em Santiago, Pablo Neruda teve mais duas casas, sendo elas:
- La Sebastiana: em Valparaíso, a casa oferece vistas panorâmicas para o porto e o mar. Aliás, arquitetura e a decoração refletem o amor de Neruda pelo mar, com paredes curvadas, janelas em arco e móveis de madeira que lembram um navio.
- Isla Negra: a maior das casas de Neruda, fica à beira-mar em Isla Negra, onde tanto o poeta quanto Matilde Urrutia foram enterrados. A casa fica nas colinas voltadas para a praia e possui estátuas em tamanho real, conchas gigantes e paredes de pedra calcária. Assim como as demais, têm uma conexão íntima com o mar.
Todas as três casas de Neruda são administradas pela Fundação Pablo Neruda e são abertas à visitação pública.
0 comentários