O registro de nascimento de uma criança costuma ser um momento simples e simbólico para a maioria das famílias. Mas, em alguns casos, ele pode se transformar em um episódio marcante, como aconteceu com uma recém-nascida de São Paulo que recebeu um nome nunca antes utilizado oficialmente no Brasil.
A menina, nascida em outubro de 2022, foi registrada como Amayomi, tornando-se a primeira pessoa no país a carregar esse nome. O caso ganhou repercussão por conta da originalidade da escolha e da reação inesperada que ela gerou no cartório responsável pelo registro.
A surpresa no cartório com o nome, até então, inédito
A mãe da criança, Daniele Pereira Brandão Xavier, contou que precisou passar por um processo fora do comum para oficializar o nome da filha. Apesar de já ter dois outros filhos, cujos registros não apresentaram qualquer impedimento, desta vez ela se deparou com exigências burocráticas incomuns.
Ao tentar registrar a filha, Daniele foi informada pela funcionária do cartório de que o nome Amayomi não constava nos sistemas. Por isso, seria necessário solicitar autorização ao cartório central da cidade. Caso a solicitação fosse negada, só haveria possibilidade de registro por meio de decisão judicial.
A situação pegou Daniele de surpresa. Ela relatou que, antes do nascimento, havia feito diversas buscas e só encontrou referências ao nome “Abayomi”, com grafia diferente. Mesmo assim, decidiu manter a escolha original por considerá-la significativa e única.
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Significado e inspiração do nome
Boneca Abayomi. Foto: Flickr.
O nome Amayomi não possui registros anteriores no Brasil, mas parece ser uma variação de “Abayomi”, nome de origem iorubá, grupo étnico-linguístico da África Ocidental, principalmente da Nigéria. Em tradução livre, “Abayomi” significa encontro precioso, sendo composto pelas palavras “abay” (encontro) e “omi” (precioso).
Essa palavra é fortemente ligada à cultura afro-brasileira e tem presença marcante na história das bonecas abayomi. Feitas artesanalmente com pedaços de pano, essas bonecas eram produzidas por mulheres negras escravizadas para acalmar seus filhos durante as viagens forçadas nos navios negreiros. Elas representavam não apenas brinquedos, mas símbolos de afeto e resistência.
Hoje, as abayomis continuam sendo produzidas e são vistas como amuletos, transmitindo valores de ancestralidade e identidade cultural. Sua confecção e circulação mantêm vivas tradições que fazem parte da memória coletiva do povo negro no Brasil.
Nome como marca de identidade
A escolha de um nome é sempre carregada de significado. Para muitos pais, ele representa valores, esperanças e desejos que se projetam sobre o futuro da criança. No caso de Amayomi, o nome foi pensado com cuidado, tendo como base uma herança cultural rica e ancestral.
Daniele quis dar à filha um nome que trouxesse originalidade, mas que também estivesse conectado com histórias de força e representatividade. Embora o nome exato não tivesse registros anteriores no país, sua semelhança com Abayomi aponta para uma inspiração clara, tanto sonora quanto simbólica.
A mãe descreveu a emoção ao saber que sua filha seria a primeira com esse nome em todo o território nacional. Segundo ela, essa singularidade reforça o sentimento de que Amayomi carrega algo especial desde o nascimento.
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Burocracia e nomes não convencionais
No Brasil, o registro civil de nomes segue algumas normas. Os cartórios têm liberdade para recusar nomes que possam expor a criança ao ridículo ou que apresentem grafias consideradas impróprias. Quando um nome ainda não foi utilizado no país, os cartórios costumam consultar instâncias superiores, como o cartório central da comarca, antes de aceitar o registro.
Esse procedimento busca proteger a criança de futuros constrangimentos, mas pode gerar obstáculos para pais que optam por nomes incomuns, sobretudo aqueles com raízes culturais fora do eixo europeu, como é o caso de muitos nomes de origem africana, indígena ou asiática.
Especialistas em direito civil apontam que, apesar da intenção de evitar danos à criança, é importante que o processo de registro também respeite a diversidade cultural e a liberdade de expressão das famílias. Casos como o de Amayomi ajudam a ampliar esse debate e a questionar certos critérios utilizados pelos cartórios.
Uma nova possibilidade para outras famílias
A partir do momento em que um nome é registrado oficialmente, ele passa a integrar a base nacional de dados dos cartórios. Isso significa que outras famílias, se desejarem, poderão escolher Amayomi para suas filhas sem enfrentar os mesmos entraves burocráticos.
O caso mostra como novas escolhas vão se somando ao repertório cultural brasileiro. E reforça o papel da linguagem e dos nomes como ferramentas de identidade, pertencimento e resistência.
Com um nome que carrega significados profundos e históricos, Amayomi inicia a vida com uma história que já inspira outras pessoas, e que contribui para ampliar o respeito à diversidade nos registros civis do país.
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