Desde que me mudei para o Brasil, venho acompanhando com curiosidade essas iniciativas em cidades pequenas da Europa que tentam atrair novos moradores. Uma delas sempre me chama a atenção: Legrad, na Croácia. É um lugar discreto, perto da fronteira com a Hungria, mas que volta e meia aparece nas manchetes com uma proposta ousada, vender casas por preços simbólicos.
A ideia por trás disso é simples. Legrad, como muitas cidades pequenas da Europa, está perdendo moradores, principalmente os mais jovens. Eles acabam se mudando para grandes centros urbanos em busca de trabalho, estudo ou outros caminhos. E o resultado disso é que as cidades menores vão esvaziando, perdendo escolas, serviços e aquele senso de comunidade que faz falta quando tudo começa a sumir.
Foi nesse contexto que surgiu a iniciativa conhecida como “casas por um euro”. O objetivo não é só vender imóveis baratos, mas atrair famílias dispostas a viver ali, a se integrar e a ajudar na reconstrução da cidade como um lugar vivo e cheio de gente.
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Como funciona o programa?
Apesar do valor simbólico das casas, não é só chegar e pegar a chave. A cidade quer pessoas que realmente estejam interessadas em morar e contribuir com a comunidade. Por isso, há algumas exigências: os candidatos geralmente precisam ter menos de 45 anos, estar em um relacionamento estável (casamento ou união), não possuir outros imóveis na Croácia, apresentar ficha limpa e mostrar que têm condições financeiras de investir na reforma da casa e viver ali a longo prazo.
A maioria das casas precisa de obras, algumas em estado mais crítico que outras. Em edições anteriores do programa, a prefeitura chegou a oferecer apoio financeiro para as reformas. Mas quem estiver interessado precisa checar se essa ajuda ainda está disponível. O importante é saber que não se trata apenas de comprar uma casa barata, é um compromisso com um novo estilo de vida.
O mais interessante é que o programa já está dando resultado. O prefeito, Ivan Sabolić, contou à imprensa que houve um aumento no número de crianças na cidade. Isso é algo raro hoje em dia em lugares pequenos. Tanto que a prefeitura começou a construir o primeiro jardim de infância da cidade, o que mostra que, além de novos moradores, a cidade está ganhando vida nova.
Claro que tudo tem dois lados. Nem sempre é fácil recomeçar em outro país, em uma casa que precisa de conserto e em uma cultura diferente. Mas para quem busca paz, natureza e uma vida mais simples, pode ser uma boa oportunidade.
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O que Legrad tem de especial?
Legrad, na Croácia.
Legrad tem cerca de dois mil moradores. No passado, durante o Império Austro-Húngaro, chegou a ser um importante porto fluvial e centro comercial. Fica na junção dos rios Drava e Mura, uma região cheia de natureza e paisagens bonitas. É o tipo de lugar ideal para quem gosta de pesca, caminhadas e vida ao ar livre.
A economia da cidade gira em torno da agricultura, da pesca e de um turismo ainda modesto, mas em crescimento. A rotina é tranquila, e os moradores mantêm tradições locais, com festas e eventos comunitários ao longo do ano. Tem aquele clima de cidade pequena, onde todo mundo se conhece e o ritmo da vida é outro.
Essa estratégia de vender imóveis baratos para atrair novos moradores não é exclusiva da Croácia. Várias cidades na Itália, por exemplo, também lançaram programas parecidos. Cada uma com suas regras, claro. Mas todas com o mesmo objetivo: evitar o abandono e trazer de volta a vida às ruas que já foram cheias.
Vale a pena?
Legrad pode ser uma opção interessante para quem quer mudar de vida, sair da correria das grandes cidades e viver de um jeito mais simples. Mas é preciso ter em mente que isso vem com desafios. Reformar uma casa antiga não é tarefa leve. E adaptar-se a uma nova cultura e idioma exige paciência.
Por isso, quem estiver realmente interessado deve pesquisar bem. Ver quais são as condições atuais do programa, como está a infraestrutura da cidade e o que é esperado de quem compra essas casas. Mais do que um imóvel barato, Legrad oferece a chance de fazer parte de uma comunidade pequena, com história e vontade de recomeçar.
Para quem está aberto a mudanças e quer mais do que um endereço, quer uma nova rotina, novas pessoas e um novo lugar para chamar de casa, talvez Legrad seja o começo certo. Afinal, um recomeço nem sempre custa caro. Às vezes, custa menos de um euro.
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