Cinco séculos após a morte de Leonardo da Vinci, um novo capítulo se abre sobre sua contribuição não só para a arte, mas também para a arquitetura e engenharia. Um manuscrito restaurado recentemente revelou informações detalhadas sobre túneis subterrâneos escondidos sob o Castelo Sforza, em Milão, e reacendeu o interesse por um mistério que há séculos circulava entre moradores e historiadores.
A origem dessa história remonta ao século XV. Em 1460, Francesco Sforza, um dos principais nomes do Ducado de Milão, transformou uma antiga fortaleza medieval em um imponente palácio. Com essa mudança, surgiram rumores sobre a existência de passagens subterrâneas secretas ligando o castelo a outros pontos estratégicos da cidade, relatos que se mantiveram vivos por gerações, mas nunca foram comprovados.
Foi somente graças aos registros de Leonardo da Vinci que esse antigo enigma começou a ganhar contornos mais concretos. Entre 1482 e 1499, Da Vinci trabalhou sob o comando de Ludovico Sforza, filho de Francesco, e registrou em detalhes vários projetos arquitetônicos relacionados ao castelo, incluindo possíveis rotas subterrâneas. Os esboços estavam presentes no chamado Codex Forster I, uma das muitas coleções de anotações e desenhos técnicos do artista.
A tecnologia entra em cena nessa descoberta
Entenda a tecnologia por trás dessa descoberta. Foto: brazilgreece.
Os manuscritos de Da Vinci, por si só, já são peças valiosas da história. Mas foi a tecnologia moderna que permitiu confirmar as teorias ali registradas. Pesquisadores da Universidade Politécnica de Milão utilizaram ferramentas de arqueologia urbana, como radar de penetração no solo e varredura a laser para investigar o subsolo do castelo sem a necessidade de escavações destrutivas.
Os resultados confirmaram a existência de túneis, alguns em ótimo estado de conservação, reforçando as hipóteses apresentadas por Da Vinci há mais de 500 anos. A precisão de seus registros chama atenção mesmo após tantos séculos, revelando não só a presença dos túneis, mas também sua complexa engenharia.
As passagens subterrâneas provavelmente tinham múltiplas funções. Historicamente, essas estruturas eram comuns em construções medievais e renascentistas, especialmente em tempos de instabilidade política. Serviam como rotas seguras de comunicação entre diferentes áreas do castelo ou como rotas de fuga em caso de ataques.
No caso do Castelo Sforza, há indícios de que alguns túneis levavam até o mausoléu da família Sforza, permitindo visitas discretas e reforçando o clima de segredo que cercava a elite da época. Esses usos pessoais, aliados às necessidades militares, revelam como a arquitetura da época era pensada para atender tanto à estratégia quanto à privacidade.
Com base nessa descoberta, um novo projeto está sendo desenvolvido: a criação de um “gêmeo digital” do Castelo Sforza. Trata-se de uma reconstrução digital em realidade aumentada que permitirá ao público explorar os túneis e ambientes do castelo de forma interativa, mesmo sem estar fisicamente em Milão.
A proposta é unir patrimônio histórico e inovação tecnológica, ampliando o acesso ao conhecimento e despertando o interesse por monumentos que, até então, guardavam segredos ocultos sob seus alicerces. Visitantes poderão visualizar a estrutura dos túneis, entender sua funcionalidade e mergulhar no contexto histórico do Renascimento italiano.
Leia mais: 6 passos para se conectar com seu anjo da guarda todos os dias
A importância de revisitar o passado com novos olhos
O caso do manuscrito de Da Vinci e os túneis do Castelo Sforza reforça a relevância de se combinar passado e presente. Sem a tecnologia atual, as informações contidas no Codex Forster I talvez seguissem tratadas como mera especulação. Por outro lado, sem a mente curiosa e detalhista de Da Vinci, essas estruturas talvez jamais tivessem sido desenhadas com tanta precisão.
Essa colaboração entre ciência moderna e legado histórico abre caminhos não só para novas descobertas, mas para novas formas de preservação e acesso ao conhecimento. O castelo, os túneis e os manuscritos passam a ser não apenas relíquias do passado, mas também ferramentas de aprendizagem e conexão com a história viva da humanidade.
O manuscrito restaurado é uma ponte entre séculos diferentes, que mostra que o conhecimento bem documentado, mesmo que em pedaços de papel envelhecido, pode ser o gatilho para redescobertas que mudam o modo como entendemos o passado.
0 comentários