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Nova gravação em pedra pode mudar o que sabemos sobre o Egito antigo

| Em 20/09/2025 às 15:06
Veja qual foi o achado sobre o Egito Antigo. Foto: brazilgreece.

O Egito antigo sempre foi objeto de mistério e sempre impressionou a todos. Não é à toa que as terras desse país africano continuam a ser exploradas, apresentando descobertas muitas vezes impressionantes.

E, agora, uma nova peça de pedra, descoberta por arqueólogos egípcios em setembro de 2025, tem chamado atenção pela possibilidade de oferecer uma visão inédita sobre a cultura, a escrita e o governo do Egito no período Ptolemaico.

Essa peça é uma estela e foi localizada no sítio arqueológico conhecido como “Colina dos Faraós”, na cidade de El Husseiniya, ao norte do Cairo. Ela representa uma versão até então desconhecida do Decreto de Canopo, um dos documentos mais relevantes do Egito Antigo.

A novidade reacende o interesse por esse período histórico e reforça o papel da arqueologia como ferramenta para revelar aspectos pouco conhecidos de civilizações antigas. A descoberta também se conecta, de forma simbólica, com outros centros históricos do Mediterrâneo, como a Grécia e suas tradições preservadas em inscrições e templos milenares, evidenciando como o passado da região ainda influencia nossa forma de compreender a história humana.

Uma peça rara entre os documentos do Egito Antigo

O Decreto de Canopo foi originalmente proclamado em 238 a.C., durante o reinado de Ptolemeu III, um dos faraós da dinastia grega que governou o Egito após a morte de Alexandre, o Grande. O documento teve múltiplas cópias espalhadas por templos egípcios e sempre foi redigido em três idiomas: hieróglifos, escrita demótica e grego. Essa multiplicidade linguística permitiu que estudiosos modernos usassem o decreto como ferramenta de tradução, assim como ocorreu com a famosa Pedra de Roseta.

A versão agora encontrada se diferencia por ter sido esculpida exclusivamente em hieróglifos. Isso representa uma oportunidade inédita de análise, pois oferece uma amostra do idioma sagrado dos antigos egípcios sem interferência de outros sistemas de escrita. A ausência de traduções paralelas obriga os pesquisadores a confiar exclusivamente no vocabulário e na gramática da própria língua egípcia, o que pode revelar nuances até então despercebidas.

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O que diz o conteúdo do decreto?

Nova gravação encontrada pode mudar o que sabemos sobre o Egito Antigo

O decreto contém fatos que muitos ainda desconheciam. Foto: brazilgreece.

Mais do que um simples registro administrativo, o Decreto de Canopo oferece uma janela para entender como os egípcios concebiam o poder, a religião e a ciência. Entre os temas abordados, estão a recuperação de imagens sagradas levadas por invasores durante conflitos militares, a repressão de revoltas internas e a atuação do faraó em momentos de crise, como a seca que comprometeu as colheitas.

Ptolemeu III aparece retratado como um governante atento ao bem-estar da população. Ele teria, por exemplo, importado grandes quantidades de grãos para evitar a fome durante uma estiagem.

O decreto também registra a decisão de transformar sua filha, a princesa Berenice, em uma divindade oficial do panteão egípcio, com o estabelecimento de rituais em sua homenagem. Essas medidas reforçam o papel político da religião na época, mostrando como decisões de Estado eram frequentemente ligadas a cerimônias e crenças populares.

Entre os trechos mais importantes da inscrição, um ponto merece destaque: a introdução de ajustes no calendário egípcio. O decreto institui a adição de um dia extra a cada quatro anos, como forma de corrigir os erros no alinhamento das estações do ano. Essa mudança antecede o que mais tarde seria formalizado no calendário juliano, e mostra o esforço da elite egípcia para sincronizar o tempo religioso com o tempo astronômico e agrícola.

A precisão desse tipo de informação é valiosa porque revela como o conhecimento astronômico estava integrado à vida prática e espiritual da população. Os egípcios, assim como os gregos da mesma época, já buscavam entender o movimento dos astros e sua relação com o ciclo das colheitas, das cheias do Nilo e das festividades religiosas.

A estela recém-descoberta mede cerca de 1,20 metro e foi esculpida em arenito. No topo, é possível ver representações típicas da arte egípcia: um disco solar alado e duas cobras reais, figuras que simbolizam proteção e poder divino. A conservação da peça surpreendeu os pesquisadores, já que boa parte das inscrições está legível e os elementos visuais permanecem claros.

Mesmo que essa versão não seja tão detalhada quanto as cópias preservadas em museus, ela permite comparações relevantes com os outros exemplares do decreto já conhecidos. Diferenças no vocabulário, na ortografia ou na composição visual podem indicar variações regionais ou adaptações ao longo do tempo, elementos que interessam diretamente aos estudiosos da escrita hieroglífica.

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O destino da cidade de Canopo

A cidade que deu origem ao decreto já não existe em terra firme. Canopo ficava próxima à atual Alexandria, mas foi engolida pelo mar após terremotos e pelo avanço das águas. Hoje, seus restos estão submersos no litoral egípcio e vêm sendo alvo de pesquisas de arqueologia subaquática. Templos, colunas, estátuas e inscrições continuam a ser localizados por mergulhadores especializados, revelando pouco a pouco os detalhes da vida urbana de mais de dois mil anos atrás.

Essa prática de escavação em áreas submersas também é comum em outros pontos do Mediterrâneo, incluindo o mar Egeu e regiões costeiras da Grécia, onde vestígios da Antiguidade ainda aguardam novas interpretações. O que ocorre no Egito se conecta a esse movimento maior de redescoberta da história compartilhada entre os povos que viveram em torno do Mediterrâneo.

A descoberta da nova versão do Decreto de Canopo mostra como os vestígios do passado continuam a surgir e a questionar o que se pensava saber. A presença de elementos religiosos, políticos e científicos em um mesmo documento reforça o caráter multifacetado das civilizações antigas.

Esse achado reforça a importância de manter o olhar atento às conexões entre os povos que moldaram o mundo como o conhecemos. A história do Egito, assim como a da Grécia, segue em construção, pedra por pedra.

  • Konstantinos P.

    Grego, morou na Grécia por quase toda a sua vida e em Londres por 3 anos. Trabalhou como Bar Manager, Bartender e Barista em Londres e na Grécia. Além de ter trabalhado nas melhores cozinhas e bares de Londres e da Grécia. Participou de renomados cursos na área e compartilhou o seu conhecimento com seus alunos pela Europa. Por ser apaixonado pelo seu país, encontrou por meio da escrita uma forma de compartilhar com os brasileiros o seu conhecimento sobre viagens, história, cultura, mitologia grega e culinária geral, trazendo o melhor da Grécia para vocês.

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