A chegada do outono nos Estados Unidos traz muito mais do que folhas alaranjadas e temperaturas mais amenas. Para grandes redes de alimentação, essa época significa o início de uma corrida comercial marcada por um ingrediente inusitado: a abóbora. O chamado Pumpkin Spice, mistura de especiarias combinada com o sabor do legume, deixou de ser apenas uma tendência culinária e se consolidou como ferramenta de atração de clientes e aumento de vendas em cafeterias e lanchonetes de todo o país.
Starbucks e o papel do Pumpkin Spice Latte
Pumpkin Spice Latte.
Entre as marcas que melhor capitalizaram esse movimento está a Starbucks. Desde que lançou, há mais de 20 anos, o Pumpkin Spice Latte (PSL), a bebida tornou-se um símbolo da temporada. Em 2024, dados da empresa de análise de tráfego Placer.ai mostraram que o retorno do PSL elevou em 24,1% o fluxo de clientes em relação à média dos dias úteis. Em estados como Dakota do Norte e Kansas, o crescimento foi ainda maior, chegando a 45,5% e 42,6%, respectivamente.
Esse efeito vai além da simples compra do latte. Especialistas chamam o fenômeno de “efeito halo”: o cliente entra na loja atraído por um item específico, mas acaba consumindo outros produtos, desde cafés tradicionais até lanches e sobremesas. Para as cafeterias, é uma oportunidade de ampliar o ticket médio e fidelizar consumidores durante toda a estação.
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O impacto no McDonald’s e em outras redes
O sucesso da abóbora não se limita às cafeterias. O McDonald’s, por exemplo, também adotou bebidas e sobremesas sazonais inspiradas no ingrediente, aproveitando a onda criada pelo PSL. Nos Estados Unidos, a rede oferece variações de cafés e tortas com especiarias que ajudam a reforçar a identidade da marca no período do outono.
A Dunkin’, concorrente direta da Starbucks, segue a mesma estratégia, apresentando opções de bebidas com pumpkin spice já no final do verão, adiantando a “corrida da abóbora” e conquistando clientes ansiosos pelo sabor. A disputa mostra como esse tipo de produto, aparentemente simples, movimenta o setor e cria um calendário comercial paralelo, guiado pelo apelo emocional dos consumidores.
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Um fenômeno cultural e de marketing
O interesse por produtos sazonais não é novo, mas o pumpkin spice se destacou pela capacidade de se transformar em símbolo cultural. Nos Estados Unidos, a chegada do latte de abóbora funciona quase como um marcador do início do outono. O hábito de compartilhar fotos da bebida nas redes sociais reforça ainda mais essa imagem, criando uma relação entre consumo, identidade e pertencimento.
Analistas do setor destacam que, mesmo quem não consome o PSL, acaba sendo impactado. A curiosidade leva os consumidores a perguntar por outros sabores da estação, como maçã com canela ou caramelo. É o que relata Marco Suarez, proprietário da Methodical Coffee, na Carolina do Sul, ao notar que parte dos clientes chega para experimentar novidades do cardápio, ainda que não escolham o latte.
A aposta em produtos sazonais atende a uma lógica clara: criar senso de urgência. Como o item só fica disponível por tempo limitado, consumidores tendem a procurar a loja rapidamente para não perder a oportunidade. Essa dinâmica gera filas, aumenta o tráfego e reforça a associação da marca com momentos específicos do ano.
Para empresas como Starbucks e McDonald’s, que já possuem forte presença no cotidiano americano, o pumpkin spice é mais do que uma opção de cardápio. Trata-se de uma forma de renovar o relacionamento com os clientes, lembrando-os de que a marca está sempre ligada a tradições culturais.
No centro dessa tendência está o café, bebida que há décadas movimenta bilhões de dólares em vendas globais. Nos Estados Unidos, ele é consumido diariamente por cerca de dois terços da população adulta, segundo pesquisas do setor. Dentro desse universo, as versões especiais cumprem o papel de diferenciar a experiência e estimular visitas mais frequentes às lojas.
O Pumpkin Spice Latte é, portanto, parte de uma estratégia maior que envolve sabor, memória afetiva e marketing. Ao transformar um simples ingrediente em ícone de temporada, as redes conseguem não apenas aumentar o faturamento, mas também criar rituais de consumo.
Lições para o varejo
A corrida da abóbora mostra que o sucesso de um produto não depende apenas de sua composição, mas da forma como é apresentado ao consumidor. O que começou como uma bebida experimental tornou-se uma tradição com impacto direto no desempenho de gigantes do setor.
Para o varejo em geral, o exemplo reforça a importância de compreender hábitos culturais e adaptar cardápios ou ofertas a momentos específicos. O apelo sazonal, quando bem executado, cria engajamento, aumenta a circulação de clientes e fortalece a marca.
O caso do pumpkin spice revela como elementos aparentemente simples podem ganhar grande dimensão comercial. A Starbucks consolidou-se como referência nesse movimento, mas McDonald’s, Dunkin’ e diversas cafeterias independentes também surfam a onda. A abóbora, acompanhada de especiarias, deixou de ser apenas um ingrediente para se tornar sinônimo de estratégia de vendas e fidelização de clientes.
Com isso, a temporada do outono nos Estados Unidos se transformou em muito mais do que uma mudança climática. Ela se tornou um período marcado por sabores, rituais e corridas às lojas, lembrando ao mercado que tradição e consumo podem caminhar lado a lado.
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