Entre os diferentes cortes de carne consumidos no Brasil e na Grécia, há um que ainda desperta reações de resistência em muita gente: a língua bovina. Para alguns, trata-se de um prato saboroso e tradicional; para outros, é um alimento visto com desconfiança, muitas vezes relegado à categoria de carne de segunda. No entanto, especialistas afirmam que essa percepção não faz justiça ao valor nutricional e gastronômico do corte.
Um corte cheio de história e cultura
Em muitas cozinhas pelo mundo, a língua já teve papel de destaque. No Brasil, pratos como a “língua ao molho” eram comuns nas casas de família até algumas décadas atrás. Na Grécia, o corte também aparece em receitas regionais que valorizam o cozimento lento, onde temperos mediterrâneos, como azeite, alho e ervas, realçam o sabor.
Hoje, restaurantes de ambos os países têm buscado resgatar essa tradição, mostrando que o prato pode ser tão requintado quanto cortes considerados nobres. Esse movimento ajuda a quebrar o estigma de que a língua é apenas uma opção barata e sem sofisticação.
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Valor nutricional
O valor nutricional da língua de boi surpreende muita gente. Foto: Freepik.
De acordo com dados citados por órgãos internacionais de alimentação, a língua de boi é rica em proteínas de alta qualidade, ferro, fósforo, zinco e vitaminas do complexo B, especialmente a B12. Isso significa que, além de saborosa quando bem preparada, ela contribui diretamente para a saúde, auxiliando na produção de energia e no bom funcionamento do sistema nervoso.
Outro ponto interessante é que cerca de 70% do peso da língua é composto por água, algo que nem sempre aparece nas tabelas nutricionais. Ainda assim, é uma carne densa em nutrientes, capaz de rivalizar com bifes de cortes famosos, como contrafilé ou alcatra.
As gorduras presentes estão divididas entre saturadas e monoinsaturadas, em proporções equilibradas. Já o colesterol fica em níveis intermediários quando comparado ao frango e a outros cortes bovinos, exigindo moderação no consumo, mas sem a necessidade de exclusão da dieta.
Como preparar sem perder qualidade
Um dos segredos para transformar a língua em um prato valorizado está no preparo. O processo geralmente começa com a limpeza da peça, seguida de uma primeira fervura com temperos como cebola, alho e louro. Após esse cozimento inicial, retira-se a camada externa e a carne volta para a panela, o que garante maciez e sabor.
Entre as receitas mais conhecidas está a língua ao molho de tomate, que leva cebola, pimentão e ervas frescas, sendo servida em rodelas bem temperadas. Outra forma popular é desfiá-la, tornando-se recheio ideal para sanduíches, tacos ou até massas caseiras, opção que combina muito com a culinária grega, acostumada a integrar carnes cozidas lentamente em pratos com molhos encorpados.
Vale destacar que a forma de preparo interfere no valor nutricional. Frituras tendem a adicionar gordura extra e calorias, enquanto o cozimento com vegetais mantém o equilíbrio da refeição, tornando o prato mais saudável.
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Benefícios para o organismo
Entre os pontos positivos apontados por especialistas, estão:
- Fonte de proteínas de alto valor biológico: contém aminoácidos essenciais que o corpo não consegue produzir sozinho.
- Boa concentração de ferro e zinco: importantes para a imunidade e para prevenir a anemia.
- Vitaminas do complexo B: especialmente a B12, que favorece a saúde do sistema nervoso e a formação das células vermelhas.
- Energia para o corpo: por reunir proteínas e gorduras em equilíbrio, contribui para manter o organismo ativo e nutrido.
Apesar disso, como qualquer alimento, a língua deve ser consumida com moderação, já que em algumas receitas pode concentrar calorias e gorduras saturadas em excesso.
De qualquer forma, o que antes era visto como carne de segunda vem sendo redescoberto em diferentes contextos gastronômicos. Chefs têm incluído a língua em menus de degustação, provando que a versatilidade do corte permite combinações criativas. No Brasil, a receita tradicional com molho vermelho ganha releituras contemporâneas. Já na Grécia, pode aparecer acompanhada de azeite extravirgem, limão e ervas, reforçando a identidade mediterrânea.
Esse resgate mostra como pratos simples, muitas vezes esquecidos, podem ganhar novo status sem perder a essência cultural.
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Uma opção acessível e nutritiva
Além de nutritiva, a língua de boi costuma ter preço mais acessível do que cortes considerados nobres. Para famílias que buscam equilibrar gastos sem abrir mão da qualidade alimentar, pode ser uma alternativa viável.
Um estudo publicado no Journal of Food Composition and Analysis reforça essa visão ao destacar que a língua tem potencial para se tornar um produto de alta qualidade e ajudar a melhorar o consumo de proteínas e nutrientes.
No entanto, os pesquisadores também ressaltam que ainda há poucas análises detalhadas sobre a composição físico-química desse corte, o que abre espaço para novos estudos sobre seus benefícios.
Entre preconceitos e tradições, a língua bovina mostra que merece mais atenção na cozinha. Rica em proteínas, vitaminas e minerais, ela pode ser preparada de diferentes formas, adaptando-se tanto à mesa brasileira quanto à grega. Ao mesmo tempo em que resgata tradições familiares, oferece ao consumidor uma alternativa saborosa e nutritiva.
Em tempos de busca por alimentação equilibrada e acessível, talvez seja hora de olhar com outros olhos para essa carne pouco valorizada, mas que guarda um enorme potencial gastronômico e nutricional.
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