A escassez de profissionais de saúde na Itália tem aberto uma porta significativa para brasileiros que desejam trabalhar no exterior. O país europeu enfrenta um déficit estimado em mais de 65 mil trabalhadores da área, entre médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Para reduzir a falta, hospitais e instituições de saúde têm buscado profissionais no Brasil, oferecendo remuneração de até 7 mil euros por mês, aproximadamente R$ 45 mil, além de benefícios como moradia, cursos de idioma e passagens aéreas custeadas pelos empregadores.
Entendendo a crise da saúde italiana
A Itália vive um momento delicado em seu sistema de saúde. O chamado “inverno demográfico”, marcado pelo envelhecimento da população e pela queda no número de nascimentos, tem aumentado a pressão sobre hospitais e clínicas. A população caiu para cerca de 58,9 milhões em 2024, e a demanda por cuidados médicos cresce em ritmo acelerado. Com mais idosos necessitando de acompanhamento constante, o déficit de profissionais se tornou um dos maiores da história recente do país.
Esse cenário abriu espaço para a contratação de estrangeiros. O governo anunciou que até 2028 pretende emitir quase meio milhão de vistos de trabalho para diferentes áreas, com prioridade para a saúde. Essa medida busca garantir a sustentabilidade do sistema diante da redução da mão de obra local.
Porém, uma das principais barreiras para estrangeiros que desejam atuar na Europa sempre foi a validação de diplomas. Para contornar essa dificuldade, a Itália aprovou o chamado Decreto Milleproroghe, que flexibilizou temporariamente o reconhecimento de títulos estrangeiros. Com isso, médicos e enfermeiros podem começar a trabalhar de imediato, enquanto aguardam a equivalência oficial.
Essa decisão tornou os profissionais brasileiros ainda mais atraentes para o mercado italiano, já que o país reconhece a qualidade da formação no Brasil e valoriza o atendimento humanizado, características que se destacam no contato direto com pacientes.
Leia mais: Estudante usa IA para viajar no tempo e descobre evento surpreendente de 1834
Onde estão as oportunidades?
As vagas não se restringem apenas a hospitais e clínicas particulares. O recrutamento se estende a áreas como geriatria, casas de repouso, centros comunitários de saúde e até projetos humanitários. A busca por profissionais de diferentes perfis mostra que a necessidade é ampla e cobre várias frentes da assistência médica.
Além disso, muitos contratos incluem apoio logístico ao trabalhador, como auxílio para acomodação, passagem aérea e cursos de italiano. Essa estrutura facilita a adaptação inicial, um ponto sensível para quem decide se mudar para outro país.
E, para descendentes de italianos, a oportunidade pode se transformar em um projeto de longo prazo. Quem comprovar a origem e trabalhar por pelo menos dois anos tem a chance de solicitar a cidadania italiana. Isso permite não só permanecer legalmente no país, mas também ter acesso a direitos como qualquer outro cidadão europeu.
No entanto, é importante destacar que houve mudanças recentes na legislação. A Câmara dos Deputados da Itália aprovou, em 2025, um decreto que restringe o reconhecimento automático da cidadania a até duas gerações nascidas fora do território italiano. A norma altera a lei de 1992, que anteriormente não previa essa limitação.
Leia mais: A planta que ajuda a atrair dinheiro para sua casa, segundo o Feng Shui
Burocracia e desafios
Apesar do interesse italiano em atrair trabalhadores estrangeiros, o processo nem sempre é simples. Em 2023, por exemplo, dos 130 mil vistos de trabalho disponibilizados, apenas 56% chegaram à etapa de autorização inicial. Destes, menos de 30% conseguiram o documento, e apenas 7,5% tiveram a residência efetivamente aprovada.
Os números revelam que a burocracia continua sendo um entrave. Muitos contratos são temporários, o que também aumenta os casos de permanência irregular. Para quem planeja a mudança, é essencial buscar orientação oficial antes de assinar compromissos.
A presença de brasileiros na Itália não é novidade. Comunidades imigrantes já se estabeleceram em diversas regiões, especialmente onde há forte ligação histórica com descendentes de italianos. Essa relação próxima favorece a integração de quem chega para trabalhar no setor de saúde.
Segundo Talita Dal Lago Fermanian, presidente da Câmara de Comércio Itália–Brasil, trata-se de uma oportunidade de unir necessidades complementares: “O Brasil tem profissionais talentosos e a Itália tem urgência em preencher as vagas. O desafio é apenas ligar os dois lados da ponte”.
A busca da Itália por mão de obra estrangeira reflete uma tendência presente em outros países europeus, que também enfrentam dificuldades semelhantes. Para brasileiros, a chance vai além da remuneração: significa adquirir experiência internacional, vivenciar outra cultura e, em alguns casos, abrir caminho para a cidadania europeia.
Embora as oportunidades sejam amplas e promissoras, o processo exige atenção a detalhes legais, burocráticos e culturais. Para quem deseja construir uma carreira fora do Brasil, é um convite a unir qualificação profissional, experiência internacional e, em alguns casos, a chance de conquistar cidadania europeia.
0 comentários