Recentemente, uma expressão relacionada às relações trabalhistas ganhou as redes sociais: o quiet quitting. Trata-se do movimento que “prega” fazer apenas o mínimo na sua rotina de trabalho, com o objetivo de não perder o emprego. Mas, essa “demissão silenciosa” faz mesmo bem à sua saúde mental?
De forma bem simplificada, o quiet quitting é executar o mínimo das tarefas propostas a você. Ou seja, apenas o que é de fato ligado às suas atribuições, sem ir além. Por exemplo: recusar projetos que estejam fora das especificações do seu trabalho, ir embora na hora exata, sem avisar ou fazer sua pausa exata de lanche ou almoço.
A prática certamente leva ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, estabelecendo limites reais. Por outro lado, pode conduzir a uma estagnação profissional e até a problemas de relacionamento com os membros da equipe. Logo, é preciso entender o que é, de fato, o quiet quitting e discutir o que isso tem a ver com saúde mental.
O que é quiet quitting?
Em síntese, quiet quitting é não se matar pelo trabalho. Ou seja, desafiar a antiga crença de que a vida profissional deve reinar completamente sobre a pessoal. Esse fenômeno vem se colocando como uma tendência em todo o mundo entre funcionários esgotados, especialmente em organizações com pouca mão de obra.
Observe que não é deixar seu emprego de repente, mas fazer exatamente o que você é pago para fazer. Em outras palavras, executar fielmente o que sua função define que você faça. A filosofia consiste simplesmente em rejeitar a noção de que todos os funcionários devem ir além de seu dever.
Trata-se de priorizar um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal, suas paixões e hobbies, seus relacionamentos pessoais, sua saúde mental e emocional. Ué, mas isso não é o óbvio? Sim, mas há uma cultura de que devemos fazer sempre mais para sermos bem sucedidos. E o quiet quitting é uma resposta a ela.
A prática está sendo adotada por quem se sente esgotado e mal consegue passar pelo dia de trabalho. Sobretudo, colaboradores que buscam um significado mais profundo sobre o seu próprio papel na empresa em que atua. Entretanto, apesar de se sentir exausto dos prazos, estresse e excesso de trabalho, não pode se dar ao luxo de renunciar ao cargo.
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Sinais do quiet quitting na organização
Os sinais de um movimento de quiet quitting na organização são muito sutis. Os mais comuns são:
- Menor interesse em ir além e sentir-se sem inspiração para alcançar mais;
- Recusar tarefas fora da descrição do trabalho;
- Dizer não a trabalhar longas horas ou ficar até tarde no trabalho;
- Sempre sair do local de trabalho no horário;
- Selecionar ou recusar projetos com base em preferências;
- Estar menos envolvido na função;
- Assumir menos responsabilidades;
- Interação reduzida ou isolamento de outros membros da equipe;
- Evitar cargos e funções de liderança;
- Não atender chamadas ou mensagens de trabalho após o horário de trabalho;
- Estar emocionalmente desapegado do trabalho e das responsabilidades diárias;
- Fazer o trabalho mínimo necessário ou atender aos padrões mínimos de desempenho;
- Evitar fazer trabalho adicional para o benefício da organização;
- Retirar-se de tarefas e atividades que não são obrigatórias;
- Não participar ou contribuir ativamente nas reuniões da equipe;
No entanto, deve-se entender que o quiet quitting não é necessariamente uma ação planejada ou organizada para protestar contra as políticas de trabalho. É mais uma decisão e ação individual para proteger a saúde mental.
A demissão silenciosa é boa para a saúde mental?
E por que as pessoas estão tão entusiasmadas com o quiet quitting? Por que alguém optaria por ser “preguiçoso” e “desleal” em vez de trabalhar mais para subir a “escada do sucesso? Mas a verdadeira questão não deveria ser por que se espera que os funcionários façam mais do que foram contratados para fazer?
Talvez seja exatamente essa dicotomia de pensamentos que tornou esse movimento tão viral. Afinal, não é de hoje que se aponta esgotamento e desequilíbrio da vida profissional como resultado do excesso de trabalho. Logo, essa demissão silenciosa ressoou pelo simples fato de colocar o foco de volta na importância da saúde mental dos funcionários.
A ideia é que as pessoas avaliem e repensem suas prioridades e se concentrem no que é realmente importante para elas.
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Benefícios e malefícios do quiet quitting
Porém, há prós e contras sobre a prática e as desvantagens estão justamente relacionadas à atual cultura laboral da proatividade. Ao mesmo tempo em que estabelece um limite que pareça óbvio, a prática pode levar a falta de oportunidades profissionais, estagnação de carreira e até prejuízos no ambiente organizacional.
O que dizem os especialistas sobre quiet quitting? De acordo com o psicólogo e consultor Lee Chambers, o quiet quitting é um mecanismo de enfrentamento para lidar com o esgotamento e excesso de trabalho. Ou, ainda, quando a pessoa aplica um esforço considerável em sua função, mas não se sente valorizada.
Deste modo, a falta de reconhecimento muda os comportamentos dos funcionários para o desapego de sua função. Ainda que os efeitos careçam de resultados cientificamente comprovados por ser algo novo, há pesquisas que sugerem a definição de limites como uma forma eficaz de aumentar o bem-estar e proteger contra o esgotamento.
A demissão silenciosa então pode ajudar as pessoas a se afastarem da produtividade tóxica, assumindo o controle sobre seu tempo de descanso. O mesmo afirma a psicoterapeuta Tania Taylor, segundo a qual o movimento pode garantir que a vida doméstica e profissional não se misturem.
Ao mesmo tempo, reconhecer ser mais forte do que seu cargo é empoderador. Em contrapartida, o abandono silencioso pode até afastar os efeitos nocivos do estresse, mas trazer riscos profissionais. Além de perder oportunidades de desenvolvimento, há o efeito prejudicial sobre os sentimentos de realização pessoal.
Chambers aponta que a demissão silenciosa reduz o senso de engajamento, propósito e satisfação, fatores de bem-estar mental e físico.
Ademais, Taylor sugere que isso pode resultar em níveis mais altos de depressão.
Como evitar o desinteresse no trabalho
Alguns veem o quiet quitting como um antídoto para a cultura de que devemos trabalhar incansavelmente, até o ponto de esgotamento, em busca de nossos objetivos. No entanto, pode levar a consequências terríveis para os funcionários e as organizações a longo prazo. Por isso, antes de aderir ao movimento, é interessante fazer uma análise pessoal.
Um dos pontos a ser levantado é o impacto que isso traz à carreira e quão satisfeita a pessoa se sentiria fazendo o mínimo. Em seguida, aprender a estabelecer limites e se familiarizar com uma palavra com a qual muitos de nós lutamos no trabalho: não. Daí, valem as negociações com o superior imediato.
Nelas, esclarecer o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal para não prejudicar a produtividade no trabalho. Vale ainda apostar em um movimento também novo: o job crafting. Trata-se de adaptar seu papel ao que é mais importante para o profissional.
Um motorista de entrega, por exemplo, pode se encarregar de entregar as encomendas, mas também construir relacionamentos para aumentar seu nível de satisfação no trabalho.
Uma coisa é óbvia: a forma como trabalhamos mudou, assim como nossas prioridades. Então, o quiet quitting se mostra como uma forma de gerenciar a pressão por resultados resultantes no estresse. Entretanto, pode trazer efeitos profissionais negativos. Por isso, não é uma decisão a ser tomada de forma abrupta e sem pensar.
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