O machismo e a possessividade masculina têm se manifestado de diversas formas ao longo da história, mas com os avanços tecnológicos, esses comportamentos abusivos encontraram novas maneiras de se perpetuar. Hoje, o uso de aplicativos espiões para monitorar mulheres é um problema crescente que coloca em risco a liberdade e a segurança das vítimas. Esse tipo de controle digital reflete um padrão de violência psicológica que muitas vezes passa despercebido, mas que causa danos profundos à vida e ao bem-estar das mulheres.
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Como funcionam os aplicativos espiões?
Esses programas, conhecidos como stalkerware, são instalados clandestinamente no dispositivo da vítima, geralmente por alguém com acesso físico ao aparelho. Após a instalação, o aplicativo realiza uma espécie de clonagem do telefone, permitindo que o agressor acompanhe em tempo real todas as atividades da vítima.
Os stalkerwares oferecem um leque assustador de funcionalidades. Assim, o invasor consegue ler todas as conversas em aplicativos de mensagens, como WhatsApp, Telegram e Messenger, além de visualizar o histórico de chamadas. Além disso, a vítima é rastreada em tempo real, o que permite ao agressor saber exatamente onde ela está.
Também, alguns stalkerwares podem ativar a câmera e o microfone do celular, registrando conversas e até mesmo o ambiente em que a vítima se encontra. Sem contar que todos os arquivos multimídia salvos no aparelho ficam disponíveis para o invasor. E, o controle vai além do monitoramento e pode comprometer a segurança financeira da vítima.
Com isso, o stalkerware transforma o dispositivo da vítima em uma verdadeira ferramenta de espionagem, que muitas vezes passa despercebida, pois esses aplicativos funcionam de forma discreta e silenciosa. Essa invasão de privacidade é especialmente preocupante porque permite ao agressor exercer um controle abusivo, violando a liberdade e a autonomia da vítima.
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A perseguição abusiva no Brasil com aplicativos espiões
O uso de stalkerware no Brasil é mais comum do que se imagina. Segundo um relatório de 2024 da empresa de cibersegurança Kaspersky, cerca de 25% dos brasileiros já foram ou estão sendo perseguidos por meio de dispositivos tecnológicos. Mais de metade desses casos envolve monitoramento de smartphones, com as mulheres sendo as principais vítimas.
Esse comportamento abusivo é conhecido como spouseware quando praticado por parceiros ou ex-parceiros da vítima. O termo deriva do inglês “spouse”, que significa “cônjuge”, e reflete uma tentativa de controle absoluto e obsessivo sobre a vida da vítima. Esse controle tecnológico é apenas uma extensão do machismo estrutural e da violência psicológica que muitas mulheres enfrentam dentro de suas próprias casas.
Porém, identificar e combater o uso de stalkerware apresenta desafios significativos. Muitas vítimas não têm conhecimento sobre essa prática ou não sabem que estão sendo monitoradas, já que esses aplicativos são projetados para operar em segundo plano, sem alertar o usuário. No entanto, existe amparo legal para coibir essa prática.
Em 2021, o Brasil introduziu o artigo 147-A do Código Penal, que criminaliza o stalking — termo que se refere à perseguição obsessiva e contínua. A legislação prevê pena de reclusão de até dois anos, além de multa, para quem for condenado por esse tipo de comportamento. Isso inclui tanto a perseguição presencial quanto a digital, abrangendo casos de stalkerware e spouseware.
Essa lei é um marco importante na proteção das vítimas de perseguição, oferecendo um respaldo jurídico para que as mulheres possam denunciar e buscar ajuda. No entanto, a aplicação efetiva da lei ainda enfrenta desafios, como a dificuldade em coletar provas técnicas e identificar o uso dos stalkerwares.
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Sinais de que seu dispositivo pode estar sendo monitorado
Estar atenta a comportamentos suspeitos no parceiro e ao funcionamento do próprio celular é fundamental para identificar a presença de um stalkerware. Portanto, aqui estão alguns sinais que podem indicar que seu dispositivo está comprometido:
- Superaquecimento inexplicável: o celular esquenta de forma anormal, mesmo quando não está sendo utilizado.
- Bateria esgotando rapidamente: o consumo excessivo de energia pode indicar que o dispositivo está executando tarefas em segundo plano, como enviar informações ao agressor.
- Uso anormal de dados móveis: verifique se há um aumento no consumo de dados, mesmo sem você usar aplicativos que exijam muita internet.
- Presença de aplicativos desconhecidos: stalkerwares muitas vezes são disfarçados de aplicativos comuns. Fique atenta a qualquer ícone estranho no menu do seu celular.
- Alterações de configuração: modificações nos ajustes de segurança e privacidade sem o seu conhecimento.
Como agir em caso de suspeita?
Por fim, se você desconfia que está sendo monitorada, é importante tomar medidas imediatamente:
- Evite confrontar o agressor diretamente, pois isso pode aumentar o risco de violência.
- Procure ajuda especializada, como delegacias de crimes cibernéticos, advogados e organizações de apoio às mulheres.
- Redefina o aparelho para as configurações de fábrica, mas somente após obter orientação de um especialista, pois isso pode apagar provas importantes.
- Use um dispositivo seguro para buscar informações e fazer contato com profissionais de segurança.
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