Desde tempos imemoriais, a mente humana tem sido um vasto campo de batalha entre o que sabemos ser o melhor para nós e as ações que efetivamente tomamos. Este dilema, conhecido como acrasia, desafiou os mais proeminentes filósofos da Grécia Antiga, como Platão, Sócrates e Aristóteles, que buscaram desvendar por que nossas ações muitas vezes contradizem nossos melhores julgamentos. Mas, por que nos sabotamos?
A perplexidade grega: por que nos sabotamos?
Acrasia, a tendência de agir de forma contrária aos nossos próprios interesses, foi profundamente investigada por figuras icônicas como Sócrates, Platão e Aristóteles.
Assim, eles se debruçaram sobre o paradoxo de como podemos falhar em seguir o que conscientemente reconhecemos ser o melhor caminho.
Por exemplo, Sócrates argumentava que toda ação humana era motivada pela busca do bem, conforme se entende no momento da ação. Assim, para ele, a acrasia era inconcebível, pois se alguém realmente compreendesse o que é bom, naturalmente o seguiria.
Enquanto isso, Platão expandiu essa discussão no “Protagoras”, onde Sócrates insiste que o conhecimento do bem é suficiente para garantir ação virtuosa.
Isso se choca frontalmente com nossas experiências cotidianas de quebrar promessas feitas a nós mesmos, desde negligenciar exercícios físicos até procrastinar tarefas importantes.
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Variações filosóficas sobre a fraqueza da vontade
Aristóteles introduziu nuances ao conceito de acrasia, distinguindo entre a ação akrática fraca, onde a pessoa temporariamente abandona seu julgamento em face da tentação, e a ação akrática impulsiva, agindo sem consideração, para depois perceber que violou seus próprios princípios.
Assim, ele e Sócrates concordavam que a acrasia resultava de uma falha na razão ou no conhecimento. Mas suas explorações apontavam para uma compreensão mais complexa da natureza humana.
Porém, a discussão sobre acrasia não terminou com os filósofos antigos; ela existe até hoje em áreas como psicologia e economia.
Pesquisadores contemporâneos, como Richard Holton da Universidade de Cambridge, argumentam que a acrasia não é simplesmente uma questão de falha na razão. Na verdade, ela pode refletir conflitos entre nossos julgamentos sobre o que é melhor no presente versus no futuro.
Enquanto isso, George Ainslie, um economista, introduziu a ideia de desconto hiperbólico para explicar como as recompensas imediatas muitas vezes parecem mais atraentes do que os benefícios futuros, contribuindo para o fenômeno da acrasia.
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Estratégias para superar a acrasia
Identificar a acrasia é apenas o primeiro passo; superá-la requer estratégias concretas. Assim, a pesquisa sugere a importância de moldar nosso ambiente e intenções para facilitar o alinhamento entre nossas ações e nossos valores.
Peter Gollwitzer, um psicólogo, propôs o conceito de intenções de implementação, que são planos específicos que nos ajudam a traduzir nossas metas em ações concretas.
Por exemplo, ao invés de vagamente se comprometer a fazer mais exercícios, uma intenção de implementação seria planejar ir à academia toda terça-feira após o trabalho.
Este percurso, desde as reflexões de Platão, Sócrates e Aristóteles até as descobertas contemporâneas, destaca a acrasia como uma parte intrínseca da experiência humana. Além de ser uma oportunidade para o autoconhecimento e a transformação.
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