Nos últimos dias, a atenção de cientistas e observadores do espaço se voltou para uma formação incomum no Sol: um buraco coronal gigantesco, com cerca de 300 mil quilômetros de extensão, captado pelo Observatório de Dinâmica Solar da NASA entre os dias 8 e 11 de setembro. A abertura, que ganhou o apelido de “borboleta solar” por conta do seu formato, está liberando uma intensa corrente de vento solar em direção à Terra. A previsão é de que esses ventos solares atinjam o planeta provocando tempestades geomagnéticas nos próximos dias.
O que são buracos coronais?
Os buracos coronais são regiões mais escuras da atmosfera externa do Sol, chamadas de coroa solar. Nesses locais, o campo magnético solar se abre para o espaço, permitindo que grandes quantidades de plasma, um gás altamente energizado composto por partículas carregadas, escapem em alta velocidade. Quando esse material é lançado em direção à Terra, ele interage com o campo magnético do planeta e pode desencadear tempestades solares de diferentes intensidades.
As tempestades que estão a caminho, segundo a plataforma Spaceweather.com, devem ser classificadas entre G1 e G2, ou seja, de fracas a moderadas. A escala vai de G1 até G5, sendo G5 a mais severa.
Mesmo em intensidades moderadas, os efeitos de uma tempestade geomagnética podem ser sentidos no cotidiano, ainda que, muitas vezes, de forma discreta. A liberação de partículas carregadas pode interferir nos satélites de comunicação, prejudicando sinais de GPS, telefonia, internet e transmissões de rádio. Também há registros de falhas temporárias em redes elétricas e, em casos mais extremos, apagões em grandes regiões, como já ocorreu no Canadá em 1989.
Empresas que operam satélites, companhias de aviação e operadoras de energia costumam acompanhar de perto esses alertas. Voos em rotas próximas aos polos, por exemplo, podem ser ajustados para evitar exposição excessiva à radiação. Já as companhias elétricas podem adotar protocolos preventivos para reduzir riscos de sobrecarga em suas redes.
Apesar de buracos coronais e tempestades solares ocorrerem com frequência ao longo do ano, setembro é um período em que esses fenômenos costumam ser mais intensos e recorrentes. Isso acontece por causa de um fenômeno conhecido como efeito Russell-McPherron, descrito em 1973. Nos equinócios, datas em que o dia e a noite têm durações praticamente iguais, a inclinação da Terra em relação ao Sol favorece o alinhamento dos campos magnéticos de ambos os astros. Isso cria uma espécie de “janela” para que o vento solar atinja o planeta com mais facilidade.
De acordo com registros históricos, os meses de março e setembro registram o dobro de tempestades geomagnéticas em relação aos meses dos solstícios (junho e dezembro). Essa tendência, aliada ao aumento da atividade solar no atual ciclo solar 25, faz com que especialistas fiquem em alerta.
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Um espetáculo natural nas latitudes extremas
Se por um lado as tempestades solares podem gerar transtornos técnicos, por outro lado elas proporcionam um dos fenômenos visuais mais bonitos da natureza: as auroras polares. Quando as partículas solares colidem com a atmosfera da Terra, elas produzem luzes coloridas nos céus das regiões próximas aos polos. São as famosas auroras boreais (no Hemisfério Norte) e auroras austrais (no Hemisfério Sul). Os meses de setembro e março são os mais favoráveis para observar essas luzes, especialmente em países como Noruega, Islândia, Finlândia, Canadá, Alasca e partes do sul da Argentina e da Nova Zelândia.
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O Sol em ciclos e o que ainda pode vir
O Sol passa por ciclos de atividade de cerca de 11 anos, alternando períodos de menor e maior intensidade de manchas solares, explosões e ejeções de massa coronal. Estamos atualmente em um período de aumento dessa atividade, o chamado ciclo solar 25, que deve atingir seu pico entre 2025 e 2026. Isso significa que novas tempestades, possivelmente mais intensas, ainda podem surgir nos próximos meses.
A ciência vem aprimorando suas ferramentas de monitoramento, usando telescópios espaciais, satélites e modelos computacionais para prever com mais precisão quando e como essas tempestades vão atingir a Terra. O objetivo é sempre antecipar impactos e mitigar riscos.
Eventos como o buraco coronal atual fazem parte da dinâmica natural do Sol e não são motivo para pânico. Porém, é importante acompanhar os boletins científicos e as atualizações de fontes confiáveis, especialmente em um mundo cada vez mais dependente de tecnologia.
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