Durante muito tempo, o trabalho de corretor de imóveis foi visto com certo preconceito. A imagem que circulava era a de um profissional insistente, com pouca formação específica, associado à ideia de que vender imóveis era um último recurso para quem não havia conseguido se estabelecer em outra área. Esse estereótipo, no entanto, tem perdido força nos últimos anos, com a transformação do perfil de quem atua no mercado imobiliário e com o surgimento de novas demandas que exigem competências variadas.
Uma profissão que está em alta e em transformação
Hoje, o corretor de imóveis assume um papel que vai muito além da intermediação entre compradores e vendedores. Em um mercado competitivo, esse profissional precisa entender de marketing digital, economia, urbanismo, legislação, crédito habitacional e tendências de consumo. Muitos adotaram as redes sociais como ferramenta de trabalho e passaram a produzir conteúdo, ganhar visibilidade e influenciar decisões de compra.
Nomes como o de Guilherme Machado simbolizam essa mudança. Ex-corretor, ele se tornou uma referência nacional na área ao apostar no conteúdo digital como diferencial. Com milhares de seguidores, livro publicado e uma escola de formação própria, ele exemplifica como o corretor pode se tornar consultor, educador e estrategista ao mesmo tempo.
O crescimento no número de profissionais ativos reflete esse novo cenário. Segundo dados do Sistema COFECI-CRECI, o Brasil fechou 2024 com cerca de 580 mil corretores registrados, um aumento de 5% em relação ao ano anterior. Isso mostra que a profissão continua atraindo pessoas interessadas em autonomia, ganhos variáveis e possibilidade de crescimento. Entre os novos corretores, há desde jovens empreendedores até profissionais experientes em transição de carreira.
As habilidades exigidas, no entanto, se tornaram mais sofisticadas. Ter boa comunicação deixou de ser suficiente. É necessário saber criar e manter redes de relacionamento, entender de tecnologia, interpretar indicadores do mercado imobiliário, lidar com burocracias e acompanhar de perto as mudanças de comportamento dos consumidores.
Leia mais: 5 sobrenomes que representam riqueza e podem te garantir uma herança
A influência de nomes conhecidos
O prestígio recente da carreira também é reforçado pela presença de pessoas públicas que decidiram atuar no setor. Artistas como Marcelo Antony e Mylla Christie, por exemplo, migraram para o ramo imobiliário, especialmente no mercado de imóveis de luxo. A movimentação de nomes com carreira consolidada atrai atenção e contribui para a mudança de imagem da profissão, conferindo mais legitimidade a quem opta por ela.
Além disso, a possibilidade de atuar de forma autônoma, montar carteira de clientes e trabalhar com horários flexíveis torna a atividade atrativa para quem busca mais controle sobre sua rotina profissional.
Apesar do crescimento e da valorização recente, há quem levante a dúvida: a profissão de corretor de imóveis está ameaçada pela automação? Ferramentas digitais e plataformas que conectam diretamente proprietários e compradores estão cada vez mais presentes no mercado. Sites, aplicativos e inteligência artificial já oferecem fotos em alta resolução, vídeos em 360 graus, estimativas de preço e simulações de financiamento, o que reduz parte da intermediação que antes era feita exclusivamente por humanos.
Mesmo assim, especialistas apontam que o contato humano ainda é fundamental, especialmente em negociações mais complexas, como as que envolvem valores altos, documentação detalhada e análise de crédito. Além disso, a presença de um profissional especializado pode ajudar a evitar problemas jurídicos, orientar sobre a viabilidade de uma compra e oferecer suporte emocional em decisões que envolvem mudança de vida.
Ou seja, embora o corretor precise se adaptar às novas ferramentas, sua atuação dificilmente será totalmente substituída. O desafio é incorporar a tecnologia como aliada, não como concorrente.
Leia mais: 5 oportunidades de emprego remoto para brasileiro ganhar em dólar
Porém, com a mudança também aparecem novos desafios
Alguns desafios têm surgido à medida que a tecnologia evolui. Foto: Freepik.
A consolidação das plataformas digitais exige atualização constante. Quem não se adapta tende a perder espaço. Por outro lado, quem investe em capacitação, atendimento personalizado e uso inteligente das redes sociais consegue se destacar.
O setor imobiliário também passa por mudanças de perfil do consumidor. Jovens da chamada geração Z, por exemplo, priorizam experiências, mobilidade e sustentabilidade. Isso influencia a escolha dos imóveis e a forma de negociação, exigindo dos corretores uma leitura mais ampla do mercado e das transformações sociais em curso.
O aumento do número de empreendimentos voltados para aluguel por temporada, espaços compartilhados e imóveis compactos são outros exemplos de movimentos que exigem novos conhecimentos e estratégias dos profissionais da área.
Permanência ou risco?
A dúvida sobre a permanência da profissão se sustenta principalmente em razão da digitalização dos processos de compra e venda. No entanto, a resposta não é tão simples. O mercado imobiliário brasileiro ainda é bastante informal em algumas regiões, e o apoio de um corretor pode ser decisivo para evitar fraudes, agilizar trâmites e garantir segurança jurídica às partes envolvidas.
Portanto, embora seja possível que algumas etapas da intermediação se tornem automatizadas, a atuação estratégica do corretor tende a permanecer, desde que ele acompanhe as transformações do setor e continue agregando valor à experiência do cliente.
A profissão de corretor de imóveis atravessa um momento de reestruturação. Longe de desaparecer, ela se adapta a um novo contexto, em que tecnologia, informação e relacionamento caminham juntos. A valorização do trabalho depende, cada vez mais, da capacidade de oferecer um serviço qualificado, atualizado e sintonizado com as necessidades do mercado atual.
0 comentários