Qual o primeiro doce português que lhe vem à cabeça? Pasteis de nata? Ou as queijadinhas? Mas, você já ouviu falar nos ovos moles de Aveiro? Simples, bonitos e de sabor intenso, essas pequenas sobremesas são literalmente um patrimônio da Veneza Portuguesa e, claro, do próprio país.
Os ovos moles são um dos doces conventuais, aqueles cujas receitas nasceram nos conventos femininos. Como as claras eram usadas para diversos fins, sobravam as gemas. Assim, precisavam pensar em formas de como aproveitá-las. Foi aí que surgiram as deliciosas receitinhas doces.
Certo, mas então, o que são, exatamente, os ovos moles de Aveiro? De modo geral, consiste em hóstias recheadas com a pasta cremosa de ovos. Hoje, adquirem diferentes formas, como peixinhos, moliceiros (barcos) e conchinhas. Mas, a gente vê que a história desse doce de prova quase obrigatória por quem passa por Aveiro, vai muito mais além.
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Como surgiram os ovos moles de Aveiro?
Segundo o portal da Living Tours, uma das principais empresas de turismo do norte do país, a invenção dos ovos moles se deu no Mosteiro de Jesus de Aveiro. Lá nos idos do século VIII, a cana de açúcar chegou a Portugal com os árabes, mas somente séculos depois é que os portugueses encontraram o solo ideal para o plantio: a Ilha da Madeira.
Daí, o açúcar se tornou uma das atividades econômicas mais importantes do então império. Parte da produção ia para o rei que, em seguida, separava a porção dos conventos. É aqui que, enfim, voltamos ao mosteiro aveirense, cuja criação foi obra da D. Brites Leitoa. A senhora veio da corte para a região de Vagos, onde tinha uma quinta (fazenda).
Lá, produzia-se uma série de produtos alimentícios, como ovos, vinho e cereais. Parte dessa produção, claro, ia para o mosteiro (que, lembre-se, também recebia açúcar da coroa). Só que, inicialmente, esse açúcar tinha fins farmacêuticos. Felizmente, a criatividade (e a necessidade) fez com que as freiras o destinassem para outras finalidades: o doce de ovos.
Ocorre que elas perceberam ser necessário manusear e mesmo guardar aquela pasta cremosa. Assim, tiveram a ideia de colocá-la dentro das hóstias (sim, a mesma da comunhão). E foi aí que nasceram os ovos moles de Aveiro! A tradição é tamanha que os doces foram os primeiros a receber a denominação de Indicação Geográfica Protegida (IGP).
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Ainda tem as variações!
Batendo perna pelas ruas charmosas de Aveiro, você vai sempre ver os ovos moles nas vitrines das melhores doçarias. Vai notar, ainda, que os doces têm diferentes formatos, desde peixes a búzios. Como já comentamos, alguns até arriscam a forma dos moliceiros, os barcos tradicionais que cortam os canais da cidade (mas, vamos falar deles em um outro post).
Ocorre que, como tudo no país, os doces são carregados de tradição e história. Estas formas todas são uma alusão à atividade de pesca da região (que, inclusive, tem salinas responsáveis pela produção totalmente artesanal do sal). Por isso, os doces são uma lindeza e ótimos para dar de lembrança (vêm até em caixinhas bonitinhas e decoradas).
Além disso, a massa que se usa nos ovos moles de Aveiro é base para outras delícias muito tradicionais da Veneza Portuguesa. Por exemplo, as “broinhas”, que são, como o próprio nome já diz, broas doces feitas com os ovos moles e pão de ló. Ah, e o acabamento com açúcar polvilhado. Há quem coma o doce puro ou acompanhado de um cafezinho.
E, ainda, temos os profiteroles de chocolate recheados com a massa de ovos moles, assim como as tripas de Aveiro. Mas, calma, pois estas tripas não são salgadas! Trata-se de uma massa cuja receita é quase um segredo, mas fica entre o crepe e o pão de queijo. Os recheios são variados, desde queijo a nutella e, claro, ovos moles!
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Onde comer os melhores ovos moles de Aveiro?
Você encontra ovos moles em quase toda esquina da cidade. Mas, existem os pontos para experimentar o doce tradicional. Por exemplo:
- Confeitaria Peixinho, a casa mais antiga dos ovos moles
- Café A Barrica
- Oficina do Peixe
- Pastelaria Veneza
Enfim, ir à Aveiro e não experimentar os ovos moles é quase como ir ao Rio de Janeiro e não ver o Cristo Redentor. Por isso, passando pela Veneza Portuguesa, prove, pelo menos, um deles!
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