Embora tenha surgido há mais de dois milênios atrás, o estoicismo continua a encontrar espaço no século atual. Nascido no antigo continente grego da Grécia Antiga, o sistema filosófico tem sido redescoberto por todos que procuram encontrar um pouco mais de equilíbrio ante a rotina moderna.
Nos anos recentes, o termo tem sido associado à literatura de autoajuda, palestras e páginas em redes sociais. E mesmo que a fama repentina venha muitas vezes acompanhada de simplificações, o crescente interesse indica algo mais profundo: uma intenção sincera de aprender a arte de viver bem em tempos difíceis.
O que é estoicismo?
O estoicismo é uma escola do pensamento que apareceu em Atenas cerca de 300 a.C., sendo fundada por Zenão de Cítio. Ele veio a ser desenvolvido posteriormente por nomes como Epicteto, Sêneca e o imperador romano Marco Aurélio. A seu turno, embora trouxessem cada um algo próprio de sua exposição ao mundo, todos tinham como ponto de partida algo igualmente similar: nada têm a fazer sobre a evolução do mundo, mas sim sobre como reagem a ele.
A proposta do estoicismo não é escapar das emoções, mas aprender a lidar com elas. A filosofia aconselha que a mente se treine para distinguir entre aquilo de que dependemos, como nossa atitude e nossas escolhas, e aquilo de que não dependemos, como a opinião alheia, a passagem do tempo ou uma crise financeira.
Leia mais: 6 signos que parecem não envelhecer nunca
As quatro virtudes estoicas
Com quatro virtudes principais, o estoicismo ainda pode ser aplicado para vivermos melhor. Foto: Freepik.
A base do estoicismo é constituída por quatro virtudes consideradas imprescindíveis a uma vida completa:
- Sabedoria: a capacidade de discernir o que é bom, mau ou indiferente.
- Coragem: enfrentar os desafios com força e integridade.
- Moderação: agir de forma equilibrada.
- Justiça: agir de maneira justa e com respeito ao próximo.
Essas virtudes não são conceitos abstratos. Elas são, na prática, princípios orientadores para as decisões do dia a dia. A ideia é que, ao desenvolvê-las, a pessoa possa viver de forma mais tranquila mesmo quando o mundo ao seu redor está em desequilíbrio.
Por que o estoicismo voltou à moda?
O interesse pelo estoicismo cresceu especialmente em tempos de turbulência, como a pandemia da COVID-19, crises econômicas e mudanças sociais aceleradas. Diante da ansiedade generalizada e do sentimento de impotência frente a tantos acontecimentos, a filosofia estoica oferece uma solução simples: foque no que você pode fazer.
Essa proposta atrai quem precisa de um ponto de referência em um futuro imprevisível. Não por acaso, figuras contemporâneas ligadas ao empreendedorismo, aos esportes e ao desenvolvimento pessoal passaram a citar os antigos estoicos como referências.
Livros como Meditações, de Marco Aurélio, ou Cartas a Lucílio, de Sêneca, voltaram às prateleiras das livrarias. Aplicativos, newsletters e podcasts sobre o tema também se espalham. A mensagem central permanece a mesma: é possível viver com dignidade mesmo em meio às adversidades, desde que esteja claro o que é de nossa responsabilidade.
Leia mais: ESTA é a flor que mais atrai beija-flor; veja onde encontrar
Lições que ainda fazem sentido hoje
Uma das ideias mais recorrentes de Marco Aurélio é que a vida é breve e imprevisível. Gastar tempo com o que não podemos mudar é, para ele, um desperdício. A proposta é, portanto, mudar o foco: aceitar os acontecimentos como são, mas viver com intenção e consciência.
Epicteto, outro grande nome da tradição estoica, ensinava que as pessoas não se irritam com os acontecimentos em si, mas com a interpretação que dão a eles. Essa percepção se relaciona diretamente com abordagens modernas da psicologia, como a terapia cognitivo-comportamental, que busca reestruturar pensamentos disfuncionais.
Sêneca, por sua vez, dizia em suas cartas e ensaios que é necessário encarar a morte e viver cada dia como se fosse o último, não no sentido de agir impulsivamente, mas como um convite à atenção plena e à valorização do momento presente.
Esses ensinamentos atravessam os séculos porque falam de algo essencial: como lidar com o sofrimento, as perdas, os imprevistos e com os próprios limites.
Estoicismo e suas raízes gregas
Como grego que mora no Brasil, é inevitável não falar da origem desse pensamento. Na Grécia Antiga, a filosofia não era separada da vida cotidiana. Era algo vivido nas praças, nos mercados, nos encontros entre amigos. O estoicismo surgiu nesse contexto, não como teoria, mas como uma forma melhor de viver o cotidiano, mesmo quando tudo ao redor parecia instável.
A própria palavra “estoico” vem da Stoa Poikile, um pórtico pintado no centro de Atenas onde Zenão e seus discípulos se reuniam para debater e praticar a filosofia. Ali, sob a luz do sol grego, nasceram as primeiras bases dessa forma de pensar que hoje retorna, muitas vezes modificada, mas ainda profundamente ligada à sua essência.
No fim das contas, é a utilidade do estoicismo que o torna uma filosofia duradoura. Ele não exige isolamento, rituais complexos ou dogmas. Basta observar, refletir e agir com consciência. Em um momento em que muitos se sentem sobrecarregados, ansiosos ou perdidos diante de tantos estímulos, o estoicismo oferece uma pausa, e uma proposta simples: focar no essencial.
O mundo é diferente do tempo de Zenão, mas os desafios internos continuam os mesmos. Ansiedade, frustração, medo, perda. O estoicismo não promete eliminar tudo isso, mas ensina como enfrentá-los de forma mais clara, sem negar a realidade, sem se deixar levar por impulsos e sem perder o foco no que realmente importa.
0 comentários