As panelas com revestimento de Teflon, há décadas presentes nas cozinhas do mundo todo, estão no centro de um debate que pode influenciar legislações em diversos países. Isso porque o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, deu um passo importante ao aprovar um projeto de lei que visa eliminar gradualmente os chamados “químicos eternos”, substâncias presentes em vários utensílios domésticos, incluindo as populares panelas antiaderentes.
Mas, o que exatamente está acontecendo?
O que está por trás da proposta?
O projeto de lei do Senado 682, já aprovado pelos legisladores da Califórnia, agora aguarda a sanção do governador Gavin Newsom. Caso seja sancionado, o texto dará início a uma retirada programada dos PFAS (sigla em inglês para substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas) de diversos produtos comercializados no estado. Os prazos variam conforme o tipo de item, com destaque para utensílios de cozinha, que deverão estar livres desses compostos até o ano de 2030.
Apesar de estarem no foco por conta das panelas de Teflon, os PFAS não estão restritos à cozinha. Eles também são utilizados em produtos de limpeza, embalagens de alimentos, ceras de esqui, itens infantis e até em alguns tipos de fio dental. A razão de seu uso se dá principalmente pela alta resistência ao calor e à água. Essas características fazem com que os produtos durem mais e sejam mais práticos no dia a dia.
No entanto, essa durabilidade tem um custo: os PFAS não se degradam facilmente no meio ambiente e podem se acumular no organismo humano com o tempo, o que preocupa autoridades sanitárias e ambientais.
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Os riscos à saúde das panelas de teflon e outros produtos com esses compostos
Diversos estudos têm apontado que os PFAS estão associados a uma série de problemas de saúde. Pesquisas citadas por órgãos como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos indicam que essas substâncias podem causar danos ao fígado, aos rins, ao sistema reprodutivo e até aumentar o risco de desenvolvimento de certos tipos de câncer.
Ainda segundo o CDC, a presença dessas substâncias no corpo humano é generalizada. Estima-se que quase toda a população americana tenha algum nível de PFAS detectável no sangue, o que evidencia o grau de exposição, muitas vezes sem que as pessoas sequer saibam da existência desses compostos.
Reação da indústria e de profissionais da gastronomia
A proposta de banimento gerou reações diversas. Chefs renomados como Rachael Ray, Thomas Keller e David Chang demonstraram preocupação com os possíveis impactos da nova lei na rotina das cozinhas profissionais e domésticas. Eles alertam que a substituição dos utensílios pode resultar em custos mais elevados tanto para restaurantes quanto para consumidores comuns.
Por outro lado, entidades ambientais e especialistas em saúde pública apoiam a iniciativa. O Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, por exemplo, aponta que panelas com revestimentos de Teflon podem liberar PFAS quando arranhadas ou submetidas a temperaturas muito altas. O ator Mark Ruffalo, conhecido por seu ativismo ambiental, também manifestou apoio à proposta.
Quais são os prazos para a adequação e as possíveis repercussões?
Se sancionada, a lei será implementada de forma gradual:
- Embalagens de alimentos e outros itens não essenciais: banidos até 2028;
- Utensílios de cozinha: obrigatoriamente livres de PFAS até 2030;
- Produtos de limpeza: adequação até 2031.
A Califórnia, com histórico de legislações ambientais rigorosas, poderá mais uma vez servir de referência para outros estados norte-americanos e até para outros países. Em tempos em que a preocupação com saúde e sustentabilidade ganha força, medidas como essa tendem a estimular discussões semelhantes em outras partes do mundo, inclusive no Brasil e na Europa.
Como identificar e evitar produtos com PFAS?
Veja como identificar e evitar produtos com PFAS. Foto: Freepik.
Reconhecer produtos que contenham PFAS não é tarefa simples, já que muitas vezes esses compostos não aparecem de forma clara nos rótulos. Ainda assim, algumas estratégias podem ajudar a reduzir o risco de contato com essas substâncias.
Um dos principais cuidados é prestar atenção às panelas antiaderentes. Sempre verifique se há informações sobre o tipo de revestimento. Quando não houver especificação, é melhor optar por alternativas mais seguras, como panelas de aço inoxidável, ferro fundido ou cerâmica. Também é recomendável escolher marcas que indiquem de forma transparente a ausência de PFAS ou o uso de materiais naturais na produção de seus utensílios.
No caso de embalagens de alimentos e produtos de limpeza, vale a pena procurar selos ou descrições que tragam menções como “livre de PFOA” ou “livre de PTFE”. Esses são dois dos compostos mais comuns da família dos PFAS e, quando aparecem destacados, já sinalizam um esforço do fabricante para oferecer opções mais seguras ao consumidor.
Além da atenção às compras, é importante cuidar bem dos utensílios que já fazem parte do dia a dia. Panelas antiaderentes em bom estado de conservação representam menos risco, mas, quando estão arranhadas ou danificadas, podem liberar substâncias indesejadas. Outro ponto essencial é evitar o superaquecimento, já que temperaturas muito altas favorecem a degradação do revestimento. Da mesma forma, o uso de utensílios metálicos deve ser substituído por colheres ou espátulas de silicone, bambu ou madeira, que não arranham a superfície.
Com pequenos ajustes de rotina e escolhas mais conscientes no momento da compra, é possível diminuir a exposição aos PFAS e tornar a cozinha, e o dia a dia, mais seguros.
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