Imagine monges, pessoas dedicadas à fé, vivendo em mosteiros tranquilos ao redor do mundo. Por muitos e muitos anos, eles fazem algo bem especial: cerveja. Mas não é qualquer cerveja. Inclusive, as pessoas que entendem de cerveja realmente valorizam essas criações, conhecidas como “Cerveja Trapista”. Para esses monges, fazer cerveja é quase como uma oração, uma forma de se conectar com Deus.
Lá no passado, os monges foram os primeiros a fazer cerveja em grande quantidade na Europa. Eles também ajudaram a melhorar as técnicas e a tecnologia para produzir essa bebida. Existiram muitos mosteiros que faziam cerveja, mas de repente, muitos deles sumiram.
A Revolução Francesa e tudo o que aconteceu depois, como o fim do Sacro Império Romano e as guerras com Napoleão, fizeram com que muitos mosteiros na Europa fechassem. Só alguns poucos voltaram a fazer cerveja no século XIX, e nem todos resistiram às grandes guerras mundiais. Mas hoje em dia, a cerveja feita em mosteiros está voltando a ganhar força.
A maior parte dos mosteiros que ainda fazem cerveja, mais de 95%, fica na Europa. Mas às vezes, as pessoas se confundem com dois tipos parecidos de cerveja monástica: a Trapista e a de Abadia.
Cerveja Trapista e Cerveja de Abadia: qual a diferença?
A principal diferença entre essas duas cervejas está em como elas são feitas, onde e quem as certifica.
Cerveja Trapista
Primeiro, para uma cerveja ser chamada de Trapista, ela precisa ser feita em um mosteiro Trapista. Esses mosteiros seguem regras bem rigorosas da ordem Cisterciense da Estrita Observância. Para ter o selo de cervejaria Trapista, eles precisam seguir critérios definidos pela Associação Internacional Trapista (ITA).
Além disso, a cerveja Trapista é produzida dentro do próprio mosteiro. Muitas vezes, são os próprios monges que fazem a cerveja ou, pelo menos, supervisionam todo o processo. E o mais importante: o dinheiro ganho com a venda da cerveja Trapista é usado para ajudar o mosteiro e as obras de caridade que eles realizam. Por tudo isso, essas cervejas são conhecidas pela sua qualidade, pela tradição e pelo cuidado com que são feitas.
Cerveja de Abadia
Já as cervejas de Abadia se inspiram na forma como os monges faziam cerveja antigamente. Mas nem sempre elas são feitas dentro de um mosteiro ou por monges. Existem dois tipos principais de cervejas de Abadia: as “inspiradas na Trapista” e as de “estilo de Abadia”.
As cervejas de Abadia inspiradas na Trapista são feitas por cervejarias comuns, que não têm ligação com mosteiros. O objetivo delas é tentar fazer uma cerveja parecida com o sabor e o estilo das verdadeiras Trapistas.
Quem faz essas cervejas são empresas normais, e a marca pode até usar imagens de mosteiros ou abadias. Mas essas cervejas não têm nenhuma ligação oficial com uma ordem religiosa ou um mosteiro específico. Elas podem ser de vários tipos, como Dubbel, Tripel e Quadrupel, e são feitas em diversos países, não só na Bélgica ou na Holanda.
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Cervejas monásticas que vale a pena conhecer
Veja quais são as principais cervejas monásticas que você deveria conhecer.
Eu já tive a chance de provar algumas dessas cervejas feitas por monges. Por isso, preparei uma lista com algumas das melhores e mais famosas cervejas monásticas:
1. Alemanha
Weltenburg: esse mosteiro, que fica na beira do rio Danúbio, é o mais antigo da Alemanha. Eles fazem cerveja lá mesmo, em parceria com a cervejaria
Bischofshof. Essa é a segunda cervejaria mais antiga do mundo, com registros que mostram que ela existe desde 1050. A cervejaria mais antiga do mundo, a Weihenstephaner, também era de um mosteiro, mas hoje não é mais ligada à igreja. Existem documentos dela de 1040, e até uma menção ainda mais antiga, de 768.
Ettal: localizado nas montanhas perto de Oberammergau, os monges beneditinos fazem cerveja no próprio mosteiro para vender na região. Eles também trabalham com a cervejaria Licher para produzir em maior quantidade.
Scheyern: essa é a terceira cervejaria mais antiga do mundo. Os monges de lá ainda fazem cerveja, mas só para vender perto do mosteiro.
2. Itália
A Itália se tornou um lugar muito importante para os mosteiros no ocidente por causa de São Bento, que nasceu lá. Agora, vamos conhecer algumas cervejas italianas de mosteiros:
Birra Nursia: um grupo de americanos fundou o Mosteiro de São Bento em Norcia no ano 2000. Em 2016, um terremoto destruiu o mosteiro e a antiga igreja onde São Bento passou a infância. Por causa disso, os monges se mudaram para as montanhas perto da cidade. Eles vendem a cerveja pela internet para ajudar a reconstruir o mosteiro.
Tre Fontane: os monges trapistas começaram a fazer cerveja aqui em 2015. Eles usam uma receita especial que leva eucalipto plantado no mesmo lugar em Roma onde São Paulo foi morto.
Monte Cassino: em 2018, anunciaram que a Abadia, fundada originalmente por São Bento, voltaria a fazer cerveja. Essa tradição tinha parado depois dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial.
3. França
Apesar de a França ser mais famosa pelos seus vinhos, ela tem uma história de produção de cerveja mais antiga que a da Alemanha. Na época dos francos, os mosteiros franceses se tornaram as primeiras grandes cervejarias da Europa, influenciando a produção de cerveja na Alemanha.
Abadia de São Maurício: recentemente, os religiosos voltaram a fazer cerveja neste mosteiro que existe desde 515. A primeira vez que uma cervejaria é mencionada lá foi em 1244. A Universidade de Lausanne ajudou a encontrar tipos de fermento que estavam na antiga adega do mosteiro.
Kloster Fischingen: fundada por Martin Wartmann, essa cervejaria faz cerveja com o nome “Pilgrim” no local do mosteiro beneditino de Fischingen.
La Trappe: essa cerveja recebeu o nome do primeiro mosteiro trapista da França. Ela é feita pelo Mosteiro Trapista Koningshoeven, com a ajuda da Cervejaria Swinkels Family, que fica perto. Esse mosteiro gosta de experimentar coisas novas, começando com a sua Quadrupel forte e criando até estilos alemães, o que não é comum para cervejas trapistas. Essa cerveja é considerada uma das melhores trapistas.
4. Bélgica
As cervejas trapistas da Bélgica são as mais famosas entre as cervejas de mosteiro, e não é à toa.
Chimay: essa é outra cerveja trapista muito conhecida e fácil de encontrar, feita no Mosteiro de Notre Dame de Scourmont.
Westvleteren: essa é a única cerveja trapista feita exclusivamente pelos monges. Os monges do Mosteiro de Saint-Sixtus só vendem a cerveja lá mesmo, em pouca quantidade, o que a torna uma das cervejas mais desejadas do mundo.
Rochefort: mais uma excelente cerveja trapista, do Mosteiro de Notre Dame de Saint-Rémy.
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Cervejas de Abadia belgas
Leffe: a InBev, uma das maiores cervejarias do mundo, produz a Leffe, que é a cerveja de abadia mais famosa. Ela ainda tem ligação com a Abadia Norbertina de Notre Dame de Leffe, que fica em Dinant.
Grimbergen: essa cerveja é feita em parceria com a Abadia de Grimbergen. A história deles é interessante: o símbolo da cerveja é uma fênix com o lema “Ardet nec consumitur” (queima, mas não se consome), porque a abadia já foi destruída por incêndios várias vezes, mas sempre foi reconstruída.
Affligem: a Heineken produz a Affligem junto com o Mosteiro Beneditino de Affligem, e o dinheiro ajuda a manter uma fazenda para jovens.
América Latina
Mosteiro: o Mosteiro de São Bento em São Paulo, Brasil, fundado por monges alemães, também faz a sua própria cerveja, chamada Mosteiro.
Abadía de Los Toldos: essa cerveja vem da Abadia Beneditina de Santa María, que fica em Los Toldos, na Argentina.
Agora você já sabe o que são as cervejas de Abadia e as cervejas Trapistas, e também conhece algumas das melhores e mais famosas delas. Que tal experimentar alguma?
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